terça-feira, 6 de julho de 2010

Primeiro ato

Ele jurou que não caiu uma lágrima sequer dos próprios olhos. E para quem viu de perto a cena, não havia situação mais crível.. Mas quem ouviu a afirmação, pôde pesar histórico, timbre, imaginação, sentimentos. Se por fora o semblante era de frieza, certamente que por dentro a dor era contida bravamente. Já para ela, a despedida teve tudo o que tem direito: beijos, abraços, risos, um "até mais", choro. É, ambos não contavam com as surpresas que aparecem para quem resolve desafiar a capacidade incontrolada de envolvimento que todo ser humano tem.
Eles foram inconsequentes. De uma amizade repentina direto para uma relação quente e, a princípio, descompromissada. Ela, mais velha, mora longe da família, gosta de curtir a vida, está terminando a faculdade e prestes a receber um pedido do casamento do homem que namora há alguns anos. Já ele, trabalha num órgão público, tem o ensino médio completo e planos de fazer faculdade. É o típico jovem: ávido por querer aprender o que a vida lhe pode ensinar. E aí sai copiando tudo o que acha legal nos outros. Os detalhes mostram isso, basta ser atento para notar. O casal é daqueles com quem se aprende que a real idade nada tem a ver com a data especificada no registro de nascimento. "Não confunda experiência, com tempo de vida". Esta frase salta aos olhos, ouvidos e pele de quem os conhece.
Juravam que não passaria de sexo.
- Ah, nada de envolvimento! A gente "tá" só curtindo.
O falso autocontrole da situação enganou os dois. Em pouco tempo, vieram a paixão, a vontade de ficar cada vez mais juntos, a saudade, as dúvidas, a separação. Ela agora quer confiar no que todo mundo diz: que o tempo e a distância vão dar conta de resolver o problema. De um mês para o outro, tudo voltará a ser como era antes de tudo acontecer. Ele agora quer mostrar pra todo mundo que não se envolveu, que não vai sentir falta, que tudo continua exatamente como sempre.
Pouca gente assistiu de fato àquela despedida. Cada um, com a sua impressão. E todos torcendo para que os amigos saiam da via escura e desconhecida na qual se meteram, ilesos.