segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Um susto na rotina

"Um belo dia resolvi mudar." Em vez da academia, um parque. Há tempos que estava com a ideia de caminhar ao ar livre, sem aquela sensação de "andar para lugar nenhum" que dá quando se está numa esteira. Segui a rotina, quanto ao horário: às 16h saí de casa com tudo o que costumo levar para a academia, menos a quase certeza de que ela não funcionaria hoje. Dito e feito! Pregada no portão principal, estava a frase: "CLUBE FEIXADO". Bem, gramática à parte, a comunicação foi estabelecida. Voltar para casa e ceder espaço para a preguiça? Até que a proposta era bem tentadora... Mas preferi seguir em frente, na vontade e no caminho. Dobrei numa rua à esquerda e fui por ela até chegar no parque.
Sem companhia, música ou previsão de quantas voltas dar em torno de um açude, desandei a andar. Pela cabeça, muitos pensamentos desconexos e todos sem um final. Passando por mim, alí do lado, muitos personagens. Senhoras que pareciam ter se vestido para uma festa, com maquiagem pesada num fim de tarde onde o sol ainda dava o ar da graça. Senhores correndo para salvar a saúde. Jovens buscando uma forma física mais atraente. Um cão, que não queira corpo bonito ou saúde. Talvez para ele aquela saída de casa fosse quase uma festa mesmo.
Algumas dessas pessoas andavam sozinhas como eu. Outras, de fones nos ouvidos, preferiam o exercício com a ilustre companhia de uma trilha sonora. Malhação para a alma não é novidade. Duas mulheres de meia idade que conversavam sobre violência (pelo menos no trecho da frase que captei ao passar por elas) e um conhecido do trabalho com o qual topei duas vezes numa volta só! Não, ele não estava correndo.
Gostei tanto da experiência que pretendo repeti-la em breve. É bom sentir que a cada passo você se move de verdade.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Primeiro ato

Ele jurou que não caiu uma lágrima sequer dos próprios olhos. E para quem viu de perto a cena, não havia situação mais crível.. Mas quem ouviu a afirmação, pôde pesar histórico, timbre, imaginação, sentimentos. Se por fora o semblante era de frieza, certamente que por dentro a dor era contida bravamente. Já para ela, a despedida teve tudo o que tem direito: beijos, abraços, risos, um "até mais", choro. É, ambos não contavam com as surpresas que aparecem para quem resolve desafiar a capacidade incontrolada de envolvimento que todo ser humano tem.
Eles foram inconsequentes. De uma amizade repentina direto para uma relação quente e, a princípio, descompromissada. Ela, mais velha, mora longe da família, gosta de curtir a vida, está terminando a faculdade e prestes a receber um pedido do casamento do homem que namora há alguns anos. Já ele, trabalha num órgão público, tem o ensino médio completo e planos de fazer faculdade. É o típico jovem: ávido por querer aprender o que a vida lhe pode ensinar. E aí sai copiando tudo o que acha legal nos outros. Os detalhes mostram isso, basta ser atento para notar. O casal é daqueles com quem se aprende que a real idade nada tem a ver com a data especificada no registro de nascimento. "Não confunda experiência, com tempo de vida". Esta frase salta aos olhos, ouvidos e pele de quem os conhece.
Juravam que não passaria de sexo.
- Ah, nada de envolvimento! A gente "tá" só curtindo.
O falso autocontrole da situação enganou os dois. Em pouco tempo, vieram a paixão, a vontade de ficar cada vez mais juntos, a saudade, as dúvidas, a separação. Ela agora quer confiar no que todo mundo diz: que o tempo e a distância vão dar conta de resolver o problema. De um mês para o outro, tudo voltará a ser como era antes de tudo acontecer. Ele agora quer mostrar pra todo mundo que não se envolveu, que não vai sentir falta, que tudo continua exatamente como sempre.
Pouca gente assistiu de fato àquela despedida. Cada um, com a sua impressão. E todos torcendo para que os amigos saiam da via escura e desconhecida na qual se meteram, ilesos.

sábado, 15 de maio de 2010

Sem explicação

Testar limites, correr riscos, ultrapassar fronteiras, buscar adrenalina. Podem ser esses ou outros os motivos que levam aquela pessoa a atravessar de moto um canal por cima de um caminho estreito. Também eles podem justificar a atitude daquele jovem que transpassava o mesmo local a pé, equilibrando-se numa tubulação de ferro. Meus olhos eram guiados a todo instante pelo espanto de duas garotas do banco de trás. E, em pouco tempo, me vi analisando as cenas à procura de uma resposta lógica para atitudes um tanto loucas.
Que justificativa nos damos por entrar num jogo perigoso, por sentir vontade de viajar com um destino geográfico bem definido e sem um racional, por se prolongar numa conversa às cegas? Está no sangue humano a vontade de fazer loucura. Afinal, vivemos num mundo tão cheio de regras que elas mesmas acabam por nos "aconselhar" pela transgressão. Pular de uma ponte alta num rio, roubar fruta da casa da vizinha, tocar a campainha de uma casa e correr depois transformaram-se em atos de alívio para situações ou momentos incômodos. Ou ainda simplesmente para preencher uma vontade incontrolável. As loucuras não precisam ser justificáveis. Pois se fossem, cairiam em contradição.
Fitei bem o rosto do moleque equilibrista e vi a alegria estampada lá. O riso vinha de dentro; não era igual ao que damos após uma piada. Se pudesse descrever aquele sentimento, seria algo parecido a quando se realiza um sonho, ouve-se uma excelente notícia, escapa-se de uma fria, consegue-se entender o por quê daquela ansiedade que te corroeu por dentro durante todo o dia.
Certamente que as "recompensas" não viriam se, por fatalidade, ambos caíssem nas águas pra lá de poluídas daquele canal. Mas se o risco não existisse, não seria loucura! E se não fosse loucura, não teria estimulado a narração tão enfática das duas vizinhas de ônibus. No final das contas, todos nos vimos naquela mesma situação e, óbvio, recompensados pela "tarefa" bem cumprida.

domingo, 3 de janeiro de 2010

2009-2010

Os dias anteriores foram de intenso trabalho. À noite, ruas vazias de gente. E o que eu esperava ser um reveillon divertido, virou frustração, indignação. Gritava em silêncio perguntando como a segunda maior cidade do estado podia receber daquela forma medíocre um novo ano? Até agora não encontrei a resposta.

Num dos cartões postais de Campina Grande, o açude velho, a paisagem linda se confrontava com vários rostos de desânimo. Nem percebi quando a meia-noite chegou. Só ouvi algumas palavras de felicidade e tentei admirar doze minutos interrompidos de fogos. Fechei os olhos por um segundo apenas e me vi à beira-mar. Era onde queria ter encerrado 2009: diante de um pedaço importante da natureza que me aproxima de Deus. Queria ter agradecido lá a excelente fase, mas aquele segundo de mentira não era o bastante.
Pela cidade, pouco movimento e bares fechados. No caminho de medo, ainda ouço resmungos das pessoas sobre o mesmo assunto. "Jamais moraria numa cidade dessas", foi uma frase forte até para mim que estava chateado. Era 2010 em Campina Grande.
A festa que deveria ter coroado um ano de vitórias não foi das melhores. Mas quem disse que ela só poderia ter acontecido na noite do dia 31?
Feliz Ano Novo!