terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Parecia o mar

Não fosse o barulho de um ou outro carro que passava na rua, parecia que estava diante do mar em plena noite. O rumor do vento, a escuridão, o cheiro... Por alguns instantes anulei o espaço em que estava e me transportei para o mar.
Esse lugar sempre exerceu sobre mim forte controle. Quando criança, fazia-me correr às pressas ao seu encontro, vontade que tenho ainda hoje e que parece não cessar. E a atração é facilmente explicável. Pela poesia que possui, o mar me fascina. O passar das águas sob os pés dá a sensação de flutuar, de movimentar-se mesmo estando imóvel. A imensidão evidencia a "insignificância" do ser humano diante da grandeza infinita. O vai e vem das ondas refletem com perfeição as idas e vindas em nossas vidas. Será que a vida também se inspirou no mar? Pois não teria outra melhor. E os excelentes conselhos vindos dele... Espaço ideal para a reflexão profunda e ajuda para escolhas decisivas.
Foram frações de minutos apenas. Abri os olhos. Diante da janela do meu quarto, apenas as luzes da cidade e um silêncio enganador...

domingo, 28 de dezembro de 2008

Retrospectiva


Discover Caetano Veloso!



Todo final de ano é tempo de repensar. É inevitavel chegar ao fim de um ciclo da vida, sem avaliar a importância de cada momento, um a um. 2008 foi (ainda está sendo e sempre será) um ano especial e de muitas mudanças pra mim.

Na faculdade, chegou ao fim os quatro anos de Jornalismo. Um estágio numa emissora de televisão - veículo que estudo e adoro há tempos - apareceu e não o deixei escapar. Mudança também de cidade, de Alagoa Grande para Campina Grande, sempre com escala na capital, minha nova casa (e onde passei menos tempo do que nas outras...). Ano de mudança na postura de vida. Passei a me divertir mais, sair, dançar, beber (moderadamente, claro). Descobri que o sonho do Jornalismo não pode ocupar todo o meu tempo. A vida é maior que um sonho, embora ele não tenha tamanho pra mim... Conheci muita gente também, aumentei o meu círculo de amizades. Cada história de vida que nem imaginava um dia conhecer de perto. E conheci. 2008 ratificou a certeza de que estou no caminho certo, cada vez mais maduro nas minhas decisões.

É bem verdade que alguns males não me abandonaram neste ano. Mas não permiti que eles atrapalhassem a minha vida. Aprendi até que alguns deles são necessários ao ser humano. Da ansiedade extrema, retirei força de vontade para lutar cada vez mais e não me acomodar apenas esperando. O negativismo esporádico me fez perceber o mal que me causa e que não posso ceder a ele: por incrível que pareça, é justamente ele quem me fez percebê-lo mais. A desconfiaça, quando não excessiva, me permitiu avaliar o chão que pisava e moderar o grau de confiança que deveria depositar nas pessoas ao meu redor. Indignação definitivamente não posso deixar de ter; com a injustiça sobretudo! E de tantas outras coisas, tirei algo positivo. Não dizem que tudo tem o seu lado bom? E então? Confio nisso.

Passei o Natal trabalhando e foi muito proveitoso. Estou agora planejando o meu réveillon. Para o próximo ano, que bate à porta, desejo que tudo de bom se intensifique e que tragam consigo mais coisas boas. E aos "males" desejo o tempo. Ele cura tudo.

À todos, um 2009 de realizações!

domingo, 21 de dezembro de 2008

Um dia sem fim

Como diria Gilmara (http://www.gildosdias.blogspot.com/), é muito bom sabermos que temos alguma importância na vida de outras pessoas. A turma concluinte de Jornalismo da UEPB, da qual passei a fazer parte por força das circunstâncias, realizou neste sábado (20) o baile de formatura. A minha curta passagem por essa turma, rendeu-me boas promessas de amizades. Fui convidado para a festa por pelo menos três pessoas da turma. E fui, depois de um dia inteiro de trabalho, uma hora numa pizzaria para comemorar o aniversário de um colega que conheci há pouco tempo, uma garrafa de vinho em casa, uma saidinha para levar uma amiga na rodoviária e muitas conversas... bobagem na maioria, mas válidas. Não lembro ter visto um dia que durasse tanto. Muito proveitoso. E olhe que depois da festa, ainda conversei mais e assisti a um pedaço de um filme...
Da rodoviária, fui direto para o local da festa, que fica próximo a minha casa. Os primeiros convidados que encontro são da minha turma da noite. Três amigos sentados no lado de fora do salão a conversar. Do local, tinha quem não desse nada por ele. Estranharam a turma ter o escolhido para a festa de formatura. Quebraram a cara. Local bem decorado, espaço bom, aconchegante,tanto pela disposição das mesas quanto pelas presenças.
Entrei, cumprimentei os formandos, sentei, conversei, comi, bebi e acompanhei o ritual de formatura da turma. Apesar de cada um deles ter um espaço cheio de pessoas queridas da família e amigos, quase nunca paravam nas mesas. Fui à procura de alguns para parabenizar, mas encontrei poucos dos poucos que estavam lá.
O momento da apresentação deles me chamou a atenção. Como as pessoas mudam numa noite especial... Quem era tímido, soltou-se e deixou-se envolver pela emoção do momento. Quem era extrovertido, estava irradiante. Performances as mais diversas ao descer os degraus da escada, edição de música criativa e a expectativa dos convidados.
Daí até o fim, alegria regada a muita dança, num momento que dificilmente se apagará da memória de todos. E o dia terminou. Mas outro está em andamento...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Aula dá saudade*

Texto de Mica Guimarães**

Ao longo de 29 anos de ensino, fui honrado pelo convite de turmas concluintes de Comunicação Social da UEPB para proferir Aulas da Saudade. Na última quarta-feira (03/12), participei de mais uma, oportunidade em que tive o prazer de dizer o que, por restrições acadêmicas, é impossível ao fazê-lo no cotidiano frio de salas insalubres.
Como toda Aula da Saudade, foi uma experiência vibrante. É que a Aula da Saudade tem o poder de tornar todo aluno e todo professor convincente. Na verdade, haverá sempre algo mais do que uma simples aula rotineira de conclusão de curso.
Aula da Saudade tem que ser assim: forte nos conceitos, afirmativa nas conclusões. A Aula da Saudade é o milagre do ensino superior, pois permite que o professor diga, em poucos minutos, o que todos os professores juntos não conseguiram dizer em vários anos de universidade. Nas aulas regulares estabelecidas em currículo, a monotonia torna o aluno apático e distante da realidade. Cumpre horários, por ser forçado a isto, em face do mero rigor disciplinar. Adestrado para desempenhar tal missão, o aluno passa a ser um mero depósito de informações, muitas vezes, totalmente dissociadas de suas aspirações mais íntimas.
Aula da Saudade tem gosto de esperança, porque aponta para o futuro e os seus desafios. Para melhorar ainda mais o nível do nosso ensino, fosse eu o ministro da Educação, determinaria que, a partir de hoje, todas as aulas ordinárias do semestre passassem a ser obrigatoriamente da saudade. O professor, assim, ao prestar concurso para a docência deveria, antes, comprovar a sua competência para ministrar Aulas da Saudade. O aluno, por seu turno, deveria atrstar a sua inclinação natural para as aulas nascidas da alma, através das lições que o espírito impõe. Aluno que quer ser doutor apenas, ter um diploma exposto em parede de sala de estar e um refulgente anel de formatura à mostra entre os dedos, seria, de pronto, inexoravelmente eliminado. Se quiser somente ser conhecedor de técnicas frias, sem o calor das excogitações humanas, fora!
Educação é para homens. Aula da Saudade, para homens a serviço do Homem. Aula dá Saudade. Mormente quando os professores, conscientes da missão árdua e bela, permitem aos alunos, em rápidos minutos, a visão cristalina do futuro, como arautos incansáveis do que inevitavelmente haverá de vir.
*Texto publicado na página de opinião do Jornal da Paraíba, em 5 de dezembro de 2008.
**Mica Guimarães é jornalista e professor da Faculdade de Comunicação Social da UEPB.

domingo, 7 de dezembro de 2008

"...acabou, boa sorte!"


Discover Vanessa da Mata!

Não poderia haver letra mais significante para este texto que começo a escrever e coerente com o que sinto agora, que tudo passou. Os quatro anos de risadas, discussões, aprendizado, tristeza, cansaço, esperança, sonhos, amizade, são agora memória. E um dos medos que tenho é justamente o de perdê-la. A memória é vazia do sentimento de realidade, sobretudo quando se tratam de momentos tão memoráveis, porque inesquecíveis. Cada vez mais vou compará-la a um sonho como tantos que tenho. O bom é que na memória, o tempo não vai passar para nós. Seremos os mesmos que freqüentavam aquela faculdade à noite por vários objetivos: um abraço, um beijo, uma conversa, um sorriso, uma companhia, um conhecimento, uma amizade, uma rodada de UNO ou apenas para sair de casa, disparecer.
A cada fotografia que vejo desses últimos dias da nossa turma, um pouco da realidade se perde. "A ficha ainda não caiu", foi o comentário-desabafo que encontrei de Baiano em uma delas. E realmente concordo. A realidade que vou sentir tanta falta quando relembrar todos esses momentos é a mesma da qual fugi quando não participei do baile de formatura. Se perguntarem se estou arrependido de não ter participado como formando, direi que não. Pensei muito antes de tomar tais decisões: a de não participar como membro da festa e a de não ter ido ao baile como convidado. Conheço a minha personalidade perfeitamente. Só pelas imagens retratadas sinto angústia. Participar desse dia seria mais um momento inesquecível que perderia a realidade nos dias imediatamente seguintes. Do primeiro dia, não sentirei tanta falta, afinal ainda viria centenas pela frente. Mas do último, certamente. A última sensação é a que fica para sempre. E dela quero guardar tudo de bom, eternizá-la.
Guardei vocês na memória, como um sonho bom que quero ver repetido a todo instante. Mas, como não confio nela - e por segurança - fiz um backup no coração também. E daqui vocês não saem, nem se apagam os melhores momentos e sentimentos dos quatro anos da turma "Imprensa que é Gostoso!".
"É so isso. Não tem mais jeito. Acabou. Boa sorte!"

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Cadê a solidariedade?

A proximidade do natal traz consigo uma sensação de paz, comunhão, irmandade e de tantos outros sentimentos louváveis. A humanidade, enquanto sentimento, nos toma de sobressalto. De repente nos tornamos mais compreensivos, bondosos, amigos, cúmplices... Tanto que virou automático. Que pena! Esta época do ano tem tudo para nos fazer reletir sobre a vida e a nossa relação com o mundo em volta e gerar mudança interna que teria grandes chances de ser externada através de gestos, palavras, olhares sinceros.
O homem mudou algo divino. É a impressão que tenho. O consumismo vazio e a falsidade ocuparam o espaço que deveria ser da reflexão e mudança; renovação. O desejo verdadeiro do bem ao próximo foi substituído por frases de conteúdo e sonoridade publicitárias como "Feliz Natal!" ou "Boas Festas!". Mais uma vez, que pena!
Hoje, uma situação me fez pensar nisso. No ponto de ônibus, fui abordado por um jovem que me entregou um pedaço de papel com algumas frases em letras miúdas. As circunstâncias em que aquilo aconteceu foi tão clara nem precisei ler para saber o conteúdo. O mesmo texto usado por várias pessoas para pedir dinheiro como ajuda. Parece que produzem aquilo em escala industrial para atingir as massas... Bem, por medo de uma possível represália, entreguei-o uma moeda. Esperei um obrigado que não veio. Foi justamente esse ato que me levou à reflexão. Não o de não ter recebido a palavra de agradecimento, mas pelo que me motivou a fazer a doação. Tinha o melhor motivo do mundo para ajudar aquele jovem de alguma forma e no entanto foi o medo quem me guiou. Quantas pessoas não sentem isso? Até a atitude de ajudar foi desvirtuada na sociedade de hoje. Doa-se mais por medo do que pela SO-LI-DA-RI-E-DA-DE.
Quem souber onde se escondeu (ou esconderam) esse sentimento tão nobre, a solidariedade, me avisem, pois estou à procura dela.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A culpa é da "falta de inspiração"!

O mal da "falta de inspiração" tem me incomodado ultimamente. Estou na fase de andar nas ruas com os olhos arregalados à caça de uma boa estória para contar no blog. E encontro muitas (a maioria no ônibus...). Se procuram um ambiente rico em estórias boas, o ônibus é o local onde se escondem. Encontro tantas que tento evitar de abordá-las no blog. Ou então crio um só para o assunto. Qual seria o título? Ônibus? Em movimento? Na poltrona? De passagem? Sei lá... São estórias do tipo: a falta de respeito com os idosos, o mal-humor dos motoristas, a demora, a paisagem que se vê pela janela, enfim várias. E ainda ouso pôr a culpa na falta de inspiração! "A falta de inspiração já é um tema de post", disse uma amiga. Entendi e cá estou.
Acho que é mais preguiça de pensar do que outra coisa. Inspiração tenho sim, e muita! Há dias que quero fazer um texto sobre uma senhora que vejo todo dia na porta da casa dela olhando a rua pela janelinha. Penso começar o texto assim: "O que procura aquela senhora que aparenta uns oitenta anos a observar a rua através da grade da porta?" Aí paro. Mas o que sei mais dela? Só que observa a rua. E? NADA mais! Não sei se mora sozinha, se tem filhos, se é saudável mentalmente, se pode sair de casa... Mas não sei. Talvez seja mais uma refém da violência e tem medo de sair de trás da grade que a protege. Ou não. Talvez sofra de algum problema mental e não tem consciência do que faz. Ou ainda tem a liberdade cerceada pela proteção excessiva da família ou seja alvo de maus tratos. Ou finalmente não seja nada disso e o louco da conversa seja eu mesmo. São muitos "tavez". Só especulações.
Tenho muitas cartas na manga, mas não as uso. São impressões sobre cenas que vejo no meu dia-a-dia e que rendem excelentes estórias. Basta recortá-las do cotidiano e decodificar em forma de palavras. Só. Isso já foi muita coisa para mim, que não cultivei antes "esse adorável vício de escrever". Hoje não é mais.
Estou com preguiça de pensar, de escrever, de apreender o que a minha capacidade de observação joga na minha cara, de organizar o tempo... Mas lembre-se, aos interessados, a culpa toda é da falta de inspiração!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Bastidores da história

"A gente está acompanhando um momento histórico, cara!", disse o meu chefe, Leonardo Alves, na noite da útima quinta-feira. Estávamos ele, eu, Mary e Denise na redação da TV Paraíba. Até aquele momento não havia parado para pensar sobre o assunto. Pelo rádio, acompanhávamos a sessão do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, que julgou o recurso protocolado pelo governador da Paraíba que pedia o cancelamento da cassação do mandato dele. Àquela altura, já podíamos perceber a tendência do voto dos ministros do TSE, favorável à cassação. A tendência foi confirmada minutos depois.
De fato, vivíamos jornalisticamente um momento histórico para o Estado. Pela primeira vez um governador teve o mandato cassado e o candidato que ficou em segundo lugar nas últimas eleições com grandes chances de assumir o cargo.
Ouvimos fogos pipocar ao longe. Pelo msn, amigos nos informavam sobre alguma movimentação comemorativa em algum ponto do Estado. Na redação, os telefones ensairam o início de um festival de ligações. Só ensairam... Dos colegas da TV Cabo Branco, em João Pessoa, soube da correria deles para encontrar Cássio Cunha Lima (cassado) e o senador José Maranhão (governador do Estado dentro de alguns dias) para repercutir a decisão do TSE.
As opiniões que ouvi foram as mais variadas, desde a indiganação de alguns, passando pelo sentimento de Justiça de poucos até chegar nas palavras de alegrias de outros tantos. Realmente a Paraíba trata a política como jogo onde torcidas rivais alternam vitórias. Falta consciência política a esse povo. Se soubessem o quanto a política é complexa e enxergassem a diferença que faz decidir pensando com a razão, não seriam assim. Não explico o que é a política porque também não sei. E por não conhecê-la profundamente, decido mais com a razão (ainda que a minha razão seja enganada) e evito penetrar nesse ambiente de torcida (des) organizada. Acho uma atitude correta para quem pretende fazer um Jornalismo cidadão competente.
A troca de comando deve se dar dentro de alguns dias, tão logo a decisão seja publicada no Diário Oficial. Na dança das cadeiras, tomara que o cidadão comum não seja o único a ficar sem lugar.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Lembram do primeiro dia?



Discover McFly!


Tirei um dia para relembrar momentos inesquecíveis destes quatro anos de faculdade. No computador, abri uma pasta com as fotos registradas em instantes distintos da nossa turma e mergulhei numa viagem ao passado distante. Num mundo onde tudo acontece com uma rapidez assustadora, um dia já pode ser considerado como passado distante... É a tal relatividade do tempo.

Foram elas que me fizeram lembrar do início de tudo, do primeiro dia. Na mesma semana em que soube do resultado do vestibular, tive acesso à lista com os nomes dos futuros colegas de turma. Confesso ter tentado identificar alguma característica pelo nome escrito no papel. Mania de quem gosta de conhecer o solo em que pisa... Mas mesmo sem conseguir identificar nenhuma, simpatizei com aquela turma da qual já fazia parte antes mesmo de conhecê-la.
Do primeiro dia de aula, guardo algumas cenas na memória. Por exemplo, da primeira pessoa com a qual conversei. Ariane estava na porta da sala que fica em frente à cantina, quando cheguei e a interroguei:

− É aqui a sala do primeiro ano?

− É sim, respondeu.

− Clébio, prazer.

− Ariane.

Ficamos calados no mesmo local. Foi ela a pessoa da turma que vi no primeiro dia de aula. Mas antes, no dia da matrícula, já havia trocado algumas poucas palavras com Demósthenes, Andreza, Mércia e Isabelle.

A primeira professora a conhecermos, Magliana, de língua portuguesa, nos chama para o interior da sala. Como bom observador, fito alguns colegas. Todo mundo calado, cismado. Vejo Taynana sentada atrás da minha cadeira, e Gilberto à minha frente. As expressões fortes do rosto de Taynana, confesso, não me agradaram. Cá comigo, pensei: “Vou ter problemas com ela”. Que bom me enganei. Ela foi uma impressão errada que tive. Hoje a considero uma das pessoas que mais gosto na turma. E de Gilberto, não preciso falar. Quem o conhece sabe que é o mesmo daquele dia de março de 2005.

Magliana conversa um pouco sobre o que é faculdade, nos dá as boas-vindas e autoriza algumas pessoas do Centro Acadêmico a entrar na sala para o famoso trote. Foi bem previsível. Balas jogadas sobre nós para representar algo doce que eles diziam querer nos passar no primeiro dia de faculdade. Sabia o que iria acontecer desde quando alguns deles começaram a discursar. Aliás, o CA continua bem previsível até hoje... Bem, depois da “aula” nos apresentamos, nomes e cidades. Gente de todo canto, idade, personalidade, sonhos, enfim, gente!

Acho que disse algumas vezes que não tenho boa memória fotográfica e nem para guardar nomes. Provo. No fim da noite, fui para a frente da faculdade para aguardar o ônibus de volta. Denise está lá também na espera do transporte. Ela me aborda:

− Você é da minha turma, não é?

− Sou???
− Eu estava sentada no outro lado da sala e te vi de lá.
− Ah, você é a menina de Cuité, né?
− Não, sou de Taquaritinga do Norte, Pernambuco.
− Ah..., desculpa. É que não deu para conhecer e lembrar todo mundo ainda, justifiquei meio sem graça.

Conversamos um bom tempo até um ir embora. Foi tempo suficiente para conhecer o sonho dela que, por sinal, é o mesmo meu. Daí a afinidade que temos. Não lembro se foi nesse dia, mas prometemos extra-oficialmente em tom de brincadeira (mas com um fundo de verdade) que dividiríamos a apresentação numa bancada de um telejornal da Globo. O compromisso ainda está de pé, Denise, e o destino parece que está ajudando...

Fui para casa. No caminho, a sensação de querer voltar o mais rápido possível. Esta sensação representa bem o sentimento que quero cultivar sempre: o da ansiedade em reencontrá-los.

À Andréia, Denise, Gilberto, Andreza, Manassés, Neto, Morgana, Baiano, Cris, Walkênio, Tássita, Thiago, Gitana, Marçal, Ianna, Gérson, Manú, Marcos, Nadja, Bruno, Kaline, Felipe, Luís Auriclelson, Belinha, Demósthenes, Táyra, Fabrício, Yhamíriam, Taynana, Gilvânia, Dani, Léo, Avlairan, Renata, Aluska e aos que passaram por esta turma em qualquer época,

PRAZER EM CONHECÊ-LOS!
Como diria Tayra: "Essa turma é minha vida!"

domingo, 9 de novembro de 2008

Nostalgia

O assunto mais presente na minha manhã de hoje foi vestibular. Neste domingo, cerca de 26 mil e 500 pessoas começaram a intensa jornada de provas para tentar uma das 4 mil vagas na Universidade Federal de Campina Grande - UFCG. As provas estão sendo realizadas em seis cidades do interior da Paraíba.
Cheguei ao ponto do ônibus faltando quinze minutos para ir ao trabalho na redação. Coisas de plantão... Lá, vários jovens também esperavam o coletivo que os levariam a um dos muitos locais de prova. Dentro do ônibus, vestibular. Quando passei por um colégio estadual, mais vestibular. Várias pessoas amontoadas em frente ao portão. Algumas ainda com cadernos nas mãos a revisar o que ainda não estava seguro na cabeça. Já na TV, durante uma das ligações que faço para órgãos públicos (delegacias, hospitais, presídios, etc.), qual o assunto que ouço? Mais vestibular... Da delegacia de Cajazeiras, no alto sertão do estado, ouço: "Aqui está tudo calmo. O povo foi dormir cedo para o vestibular...", constatou.
O que aqueles jovens procuram através do vestibular? Certamente muitos deles lá estão à procura de um sonho. Tiro isso por mim... Mas, certamente também, muitos deles estão à caça de status social, fama, dinheiro, vaidades vazias. Nesses quase quatro anos de faculdade já ouvi de tudo. Gente que estava alí só para conseguir um diploma de nível superior e pronto. Será que eles acham mesmo que aquele diploma os torna superiores aos outros? Se a resposta for sim, pobres... Não sabem o prazer que sentimos a cada passo que damos no caminho de um sonho.
O clima misto de esperança e ansiedade que senti no interior do ônibus enquanto observava pela janela aqueles sonhadores - prefiro tratá-los assim - me fez sentir um pouco daqueles sentimentos. Parecia que eu também estava a caminho do vestibular. Confesso, senti vontade de fazer as provas de novo. Deixou-me feliz o fato de não ser o único a embarcar na nostalgia. Uma repórter que foi cobrir a manhã de provas também disse o mesmo.
Boa sorte aos candidatos à conquista de um sonho. O caminho é longo e, às vezes, não tão fácil. Mas bom é vencer os obstáculos e seguir em frente. A cada passo, uma vitória.

Sobre a opinião na imprensa

Função difícil essa a do Jornalismo: a de formar opinião. Mas que precisa ser cumprida. Formar opinião significa, ao meu ver, dar todas as condições para que as pessoas possam desenvolver uma visão mais crítica acerca do mundo. Não essa à qual vemos, cuja razão de existência está atrelada à manutenção de interesses pessoais e mercadológicos. O Jornalismo, sobretudo o de tevê, está a cada dia fugindo um pouco mais dessa responsabilidade.
Não faz muito tempo que o principal telejornal do Brasil - o Jornal Nacional - retirou do seu conteúdo a participação mais que especial dos comentaristas Arnaldo Jabor e Franklin Martins e a charge inteligente de Chico Caruso. Jabor expunha a pertinente crítica através de comentários divulgados normalmente às sextas-feiras. Flanklin, às quintas, com uma coluna política. E Caruso, com as charges animadas aos sábados. De carona na onda do JN, seguiram outros telejornais das mais diversas emissoras. A Globo retirou da principal fonte de informação do país a opinião. Como justificativa, disse querer manter o caráter "eminentemente informativo" do Jornal Nacional.
Quero assistir na televisão comentários que me ajudem a formar opinião. E opinião que me ajude de alguma forma a desenvolver minha humanidade e cidadania. Não quero ver e ouvir comentários de vento como o famoso "Isto é uma vergonha!", engessada na voz de Bóris Casoy. Ou os que Carlos Nascimento anda fazendo lá no SBT Brasil. Ele tem conteúdo para fazer inúmeras vezes mais do que aquilo.
A Globo mantém ainda em seus quadros o comentarista Arnaldo Jabor, que participa quase que diariamente do Jornal da Globo (por sinal, um dos melhores da tevê brasileira. O Bom Dia Brasil é outro rico em opinião). Chico Caruso possui um quadro fixo no Fantástico, revista eletrônica dos domingos. Já Franklim Martins saiu da emissora para se tornar o responsável pela comunicação - ou ausência dela - do Governo Lula.
Sem Jabor, Martins e Caruso no principal telejornal do Brasil, resta-nos a opinião expressa raramente nos editoriais lidos por William Bonner, editor-chefe, e a expressão facial que o mesmo faz ao término de uma reportagem impactante; às vezes mais completa de opinião do que um comentário...
Abaixo, está um belo exemplo de como a opinião deve ser exposta:
Fonte: Youtube

sábado, 8 de novembro de 2008

Constatações

Descobri que gosto do frio. Ele me incomoda de vez em quando, mas o calor excessivo comum ao nordeste não tem comparação: às vezes chega a ser insuportável. Gosto da chuva. Ela é carregada de emoção. Tem o poder de mudar o meu estado de espírito quando cai. Traz introspecção e me faz refletir. Penso melhor quando chove. Logo, coloco para tocar aquelas músicas internacionais mais leves, que eu jurava que eram românticas até o dia que escutei de alguém que a tradução de uma delas com melodia romântica falava sobre comida (?!). Surpresas do inglês e erro de leitura de quem não entende quase nada do idioma. Desde lá, sempre procuro a tradução, mas insisto em me agradar à primeira vista pela melodia do que pelo conteúdo da letra.
Mas a chuva não veio mais. E nem o frio. Agora, só calor dia e noite (quero deixar claro que o calor me agrada em certas circunstâncias!). Aquela névoa da noite e início da manhã, que via e sentia lá no brejo hoje não vejo nem sinto mais. Fiquei feliz ao vê-la de volta em Campina Grande, mas bastou pouco tempo na cidade para perceber que tudo muda muito rápido. O que estamos fazendo com a nossa casa (Terra)? O que antes demorava para mudar, hoje acontece num piscar de olhos, li-te-ral-men-te. As pessoas não caminham mais. Correm! Não se conversa com calma, manda-se recados por telefone ou meio parecido e pronto. Perder tempo para quê? "O tempo não pára", disse Cazuza.
No movimento constante do tempo, muda-se de costumes. Quem ainda não percebeu que a distância entre as pessoas se alongou mais? E não falo da distância física, geográfica. A gente vê isso com os nossos vizinhos, não precisa ir muito longe. A frieza que envolve as pessoas hoje em dia não é a mesma da qual sinto falta. Acho que as pessoas deveriam aproveitar mais os poucos instantes de reflexão que a chuva e o frio proporcionam para mais uma vez mudar de postura com relação a muitas coisas. Do contrário, seremos a ironia de pessoas frias em ambiente quente. Estamos indo na contra-mão do planeta: enquanto este esquenta (temperatura), nos tornamos cada vez mais frios (relações humanas). De fato, uma ironia.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O veneno da limitação

Será que deve existir algo pior do que se sentir limitado? Bem, acho que sim. Mas não deve ser tão pior assim... Não poder andar, ver, ouvir, sentir, sorrir, falar, pensar... Existem tantas formas de limitação que fica difícil listar todas ou, no mínimo, a maioria. E o que me surpreende é que o ser humano foi preparado para agir sob qualquer espécie de limitação.
Luta contra a fome, quando existem cerca de 1 bilhão de pobres no mundo; luta contra a violência, que faz somente no Brasil 48 mil vítimas anuais por homicídio (o que representa 1o% dos homícidios no mundo); contra a injustiça, onde tantos crimes permacem sem solução. Cito dois emblemáticos, entre tantos anônimos: o da missionária Doroty Stang e o da jornalista Sandra Gomide; luta pela liberdade de pensar, de agir, de falar, de decidir, de ir e vir, de manifestar-se, de opor-se, de se fazer ouvir; enfim, luta para viver.
Para um sonhador, não existe pedra maior do que a limitação; não só a que ele é responsável, mas também a que é imposta por outras pessoas e/ou circustâncias. Perguntem ao pai da dupla Zezé de Camargo e Luciano se as limitações por vezes não o fizeram pensar em desistir. Ou ao nadador paraolímpico Clodoaldo Silva se as palavras de desestímulo que deve ter ouvido na vida não o fizeram pensar sobre a capacidade dele enquanto atleta. E a quem tem sede de conhecimento, como é o meu caso e de tantas outras pessoas, se os entraves que encontramos no caminho não freiam o desejo de saber mais e mais.
A sorte é que igual a bilhões de pessoas, eu, Francisco, Clodoaldo, lutamos todos os dias para vencer as limitações e as conseguimos vencer. Estou caminhando e isso é o que importa. Quanto aos limites que encontro no caminho, acabo descobrindo formas de pisá-los. Não são intransponíveis! Sou brasileiro e desistir não está no meu dicionário...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Esse adorável vício de escrever

Havia já esquecido como é prazeroso externar o que pensamos e/ou sentimos através das palavras escritas. Confesso, não lembrava da última vez que tinha parado um pouco na minha rotina para escrever algum texto que estivesse com muita vontade. Ontem senti bem isso. As idéias não paravam de "pipocar" na minha cabeça e chegaram a incomodar meu sono. Por pouco, quase levanto da cama e recomeço a escrever. O retorno a essa paixão antiga se deve a este maravilhoso meio chamado blog e às pessoas que, sem intenção, me apresentaram a ele.
E por que "Aspectos do Cotidiano"? Sempre tive admiração pelas crônicas por elas possuírem sentimentos os mais variados nas entrelinhas. Rubem Braga ("Porque o silêncio não tem substância. Ele é vazio como grande redoma de vidro, e o que vive nele é a última palavra ou o último gesto"), Carlos Heitor Cony (O menino das meias vermelhas), Pedro Bial (Filtro Solar), Clarice Lispector ("É timidamente, é audaciosamente, que ouso falar sobre o mundo"), e por aí vai... As crônicas possuem mais conteúdo porque são carregadas de sentimentos. Fazem refletir. E foi por gostar tanto das crônicas que resolvi criar este blog, para exercitar a ferramenta de trabalho que - espero e confio - vai me acompanhar por toda a vida de jornalista.
Todos os dias paramos para fazer alguma coisa que muitas vezes não acrescenta nada as nossas vidas. Assistimos à televisão, conversamos besteiras, discutimos, dormimos muito, ou... nem isso fazemos. Experimente escrever sobre o que tiver vontade nesse tempo e verás o quanto é prazeroso. E esse prazer vicia, eu que o diga. Boa parte da culpa dedico a Gilmara Dias, companheira de trabalho na Rede Paraíba de Comunicação. Foi lendo os textos que ela escrevia que renasceu em mim a vontade de escrever.
Havia já esquecido o quanto é bom escrever. Que bom, lembrei. A minha inspiração vem de tudo o que me cerca: o cotidiano.

O poder de uma conversa

Considero a conversa uma das maiores fontes de conhecimento - se não a maior. E na conversa, acredito que ouvir seja o mais proveitoso. Enquanto ouvimos, trabalhamos a reflexão, identificamos contradições, aprendemos o que não falar, o que falar, estudamos o solo em que pisamos (metáfora), traçamos o mínimo do perfil de uma pessoa (acerta-se em algumas vezes se a audição for aliada da observação) e muitas vezes não nos leva a lugar nenhum e por aí vai... Mas isso nã0 acontece na maioria delas.
Ultimamente o Jornalismo tem pautado a maioria das minhas conversas. Falei sobre o caso da menina sequestrada e morta pelo ex-namorado, sobre o editorial que William Bonner fez hoje sobre um caso de violência no Rio, onde uma mulher grávida e a filha de quatro anos foram baleadas - a mãe morreu -, sobre mercado de trabalho para a profissão, sobre o tratamento diferenciado que o jornalismo dedica a assuntos diferentes. Já ouvi dizer que temos duas orelhas e apenas uma boca para ouvir mais e falar menos. Até onde isso é verdade, não sei.
Por enquanto, vou conversando na busca de mais aprendizado. Sobre o Jornaismo, continuo a filtrar o que me é dirigido para o bem e evoluo com isso. O chato é que não são todas as pessoas que enxergam nossa evolução - ou não querem enxergar. E, você sabe, no mercado de trabalho, dependemos muito da visão que os outros têm sobre nós e o nosso trabalho. Infelizmente e felizmente é assim.
Conversar me ajuda a formar opinião ou deformar a que já tenho. Normal. Ela serve para isso, para convencer. Conversar, ouvir, me ensina muito, mas por vezes também me confunde.

domingo, 26 de outubro de 2008

Assim é Campina Grande

26 de outubro de 2008. Para trinta cidades do Brasil, hoje é dia de voltar às urnas para decidir de uma vez por todas quem será o "servidor público" que irá administrar a cidade pelos próximos quatro anos. Campina Grande é uma delas. A cidade com mais de 266 mil eleitores está ansiosa para saber o nome do vencedor.
Falar sobre a política em Campina Grande é o mesmo que falar do clássico no futebol entre Treze e Campinense: paixão. Aqui, numa das maiores cidades do interior do nordeste, não esperava encontrar cenas típicas de um interior pequeno. A maioria das casas na cidade demonstram através de bandeiras sobre o teto a preferência política. E não são só as casas... Carros, bicicletas, ruas, postes, animais... Hã?! Pois não é que vi uma vez um cachorro vira-lata enfeitado de vermelho em plena movimentação política no primeiro turno!
Outro dia ainda, vi o esterismo de uma mulher dentro do ônibus que provocava os adversários pela janela e o revide de quem se sentia ofendido. Campina é assim... extrema. A vontade de competir parece estar nas veias da população. Compete com João Pessoa (capital) para ser a cidade mais importante do Estado; compete dentro da cidade para ver qual o melhor time de futebol; compete para levar ao poder uma das duas cores que representam as coligações. E a competição é fervorosa! Mas, como tudo na vida, tem suas contradições e curiosidades.
Vi hoje pela janela do carro em que estava algo curioso. Duas casas enfeitadas com cores diferentes e que representavam gostos também diferentes. Uma ao lado da outra, enfeitadas na mesma proporção. Cá com meus botões, pensei: como deve ser a relação entre esses vizinhos?Confesso que queira ter visto as duas famílias em frente das casas conversando e sorrindo. Para a minha história seria excelente. Um exemplo de civilidade! Mas fiquei só no pensamento. No caminho, percebi situações idênticas. Em outro momento, vi de relance um carro com duas bandeiras: uma amarela e outra vermelha e o conselho "Vote Limpo". A identificação sobre qual seria o candidato daquele motorista ficou impossível. Até onde isso demonstrava modelo de pacificidade ou ironia, não sei.
A paixão do campinense (habitante) se estende também ao município. Não conheço outro local onde os moradores sentem tanto prazer em morar. A Justiça Eleitoral prevê para as 20h de hoje a divulgação do resutado final deste segundo turno. Será que toda essa paixão dedicada durante o período eleitoral será retribuída com trabalho sério, humano, honesto pelo vencedor do pleito? Com a palavra, os quatro anos que virão...

sábado, 25 de outubro de 2008

No ônibus

Não é a primeira vez que vejo aquela criança de cabelos queimados do sol, roupa simples - na maioria das vezes sujas -, um pequeno limpador de pára-brisas na mão. Calculo que ele tenha uns quinze, dezesseis anos, não mais que isso. As bases deste cálculo são a fisionomia e o tom da conversa.

Ele sempre chega quando o ônibus da linha 910 estaciona em frente ao ponto no qual espero para ir ao trabalho na TV Paraíba, em Campina Grande. Jamais o vi pagar para ter acesso ao interior do coletivo. Os motoristas permitem a sua entrada por medo de que possam ser vítimas de alguma maldade do garoto. Ele entra e fala com todo mundo, com uma simpatia natural e um dom invejável para a comunicação. Pede moedas, às vezes com a desculpa de que precisa comprar material de trabalho. Aparenta ser um daqueles moleques que ficam parados no sinal à espera de um motorista que queira deixar limpo o pára-brisas do carro. Estranhas, as pessoas retiram do bolso moedas de pequeno valor e as entrega ao garoto. "É melhor eles pedirem do que nos roubar", justifica um senhor de idade que está sentado à minha frente. De longe, ele fita o garoto. "Parece que ele não é drogado. Deve cheirar lá a sua cola...", avalia.
Pouco tempo depois, este mesmo senhor mudaria um pouco a opinião que tinha acerca do menino. Ele vira que o garoto ao descer do ônibus deixava transparecer duas facas presas à cintura. "Olha mesmo! Eu elogiando o danado e ele com duas facas...", bradou. Outro senhor que estava ao meu lado suspirou: "Tá vendo só? É por isso que costumo sempre dar uma moedinha. A gente nunca sabe o que eles podem fazer se não dermos nada."
Por um instante cheguei a refletir sobre essa atitude da sociedade em aceitar que as pessoas sejam obrigadas a dar dinheiro sob o risco de sofrerem algum atentado contra a integridade física. Mas logo, assim como o senhor da frente, mudei a opinião. Duas cenas das quais aquele moleque era ator me chamaram mais atenção do que as facas que portava.
A primeira foi ver que do mesmo local que conversava com uma menina de uns três anos, ele tirou do bolso um boneco que dizia ter comprado para o irmão mais novo. Era um pequeno homem-aranha de borracha que ele fez questão de mostrar como se fixava em qualquer superfície. Correu para o final do ônibus e colou o boneco que começou a descer aos poucos na superfície. As pessoas dentro do ônibus olhavam com interesse a demonstração. A outra foi a prestatividade com que ajudou uma senhora de idade que estava carregada de bolsas pesadas. Chamando de "vó", ele desceu do ônibus com as sacolas e as entregou à "avó" enquanto todos - inclusive eu - ficávamos olhando à espera que ele fugisse com os pertences da senhora.
Não posso pensar que aquele menino seja apenas um bandido após ter presenciado uma atitude tão peculiar a uma criança. O que conheço dele são somente as impressões daqueles quinze minutos no ônibus. Quem sabe dos sonhos daquele moleque? Recuso-me a taxá-lo do que quer que seja. Não tenho esse direito e nem o quero ter. Aprendo muito observando, inclusive que não posso estereotipar as pessoas pela superficialidade.