quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012


Um conto de Carnaval
Saía de casa de manhã, me juntava com os outros moleques da rua e íamos em busca do material para fazer as pistolas d'água "artesanais". Toda terça-feira de carnaval costumava ser assim há uns quinze anos. Minha mãe jamais poderia saber desses planos todos, senão não dava samba o negócio. Depois do almoço, meu imão mais velho e eu escapávamos de casa e aí começava a diversão. Divididos em grupos, cada um de um lado da rua, a guerra de jatos d'água começava. E durava o dia inteiro! Voltava pra casa ensopado. Aí o tempo foi passando e o meu carnaval caiu no esquecimento e no desgosto. Em alguns anos, ainda viajava para o litoral e passava o dia lá. Nos outros - a maioria - ficava na minha cidade mesmo. Overdose da festa do sudeste na televisão, com a qual nunca fui com a cara. Carnaval pra mim virou sinônimo de tédio, chatice.

Aí fiz greve da festa de Momo por longos anos. Até que em 2011, no finzinho, decidi com um amigo da época da guerra dos jatos d'água que voltaria a curtir o Carnaval em grande estilo. Ficar em casa pra quê, quando se tem muita diversão lá fora?! Sem muito planejamento, escolhemos a multiculturalidade de Refice e Olinda para 2012. Encontramos abrigo no apartamento de uma amiga minha e três dias de folga do trabalho, justamente quando a festa estaria no auge.

Fui sem gostar de frevo e voltei encantado com a dança e com uma sombrinha colorida típica na mala. Disse uma vez nesse meu feriadão: burro é quem não muda de opinião. Nada é fixo em vida. Mudei, inclusive, o conceito de Carnaval que tinha. Neste ano, a prévia da minha festa começou com trabalho dobrado para compensar os dias de folga, a ansiedade de viajar para curtir algo novo, em fazer a mala às pressas, em acordar de madrugada para chegar na rodovária a tempo de tomar café da manhã e bater um papo rápido divertido com o moço do guichê da companhia de ônibus:

-Tenho como comprar aqui a passagem de volta na próxima quarta-feira?
-Você tem certeza de que volta?
-kkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Bem, eu pretendo, pelo menos...

A festa em si foi dividida em dois dias que, de tão bons, passaram a impressão de que foram cinco, sete. Na programação, tomar cerveja numa birosca durante o dia, almoçar num hipermercado, conhecer gente nova, esticar o "s" para imitar "ox pernambucanox", encarar banheiros químicos (que são verdadeiras armas químicas. rsrsrs). Recife Antigo à noite. Ah, uma maravilha! Jamais havia sentido o espírito do Carnaval. Em cada esquina, um bloco diferente passava e nós acompanhávamos ao som de marchinhas antigas. Num dos primeiros, nossa anfitriã comenta:

-Nossa, como tem gente fantasiada de palhaço!

Olhamos para os lados e concordamos tassitamente. Mais na frente, avistamos o estandarte do bloco: "Segunda tem palhaço." Pérola um. kkkkkkkkkkkkkkkkk

Depois disso, um passeio pela estrutura e abrangência da festa. Praças, ruas, avenidas. Frevo, maracatu, samba, reggae, rock, música eletrônica... Vi um pedaço do show da Pitty, o Agridoce. Lindo. Passei pela tenda eletrônica. Aquela vibe mexe comigo. Passamos aperto para ver a apresentação do Seu Jorge. Dia de emoção indescritível! Voltamos à base para um descanso rápido. Depois, o dia inteiro em Olinda. Um outro Carnaval, praticamente. Tão bom quanto o primeiro que conheci lá pelas terras pernambucanas. Ladeiras, muita gente, bonecos gigantes, chuva intensa e uma bebida nova chamada Jurubeba. Uma potência! Tanto que "contrabandeei" duas garrafas para apresentar aos campinenses.
"Dormir é para us fracos e oprimidos". Ouvi e li muito isso nos últimos dias. Então, de uma festa para outra com o intervalo de uma refeição, apenas. E lá estávamos novamente no Recife Antigo para toda a animação da Elba Ramalho e do Alceu Valença. Perfeitos!

Até poderia ser mais detalhista, mas o básico foi isso. Hoje, quarta-feira, estou de volta a Campina Grande. Meu corpo, em cinzas de cansaço, saudade e alegria, pede um tempo para se recompor do melhor Carnaval da minha vida.

"Eu amo o Recife
E adoro Olinda
Mas não sei ainda
Quem fica em meu coração."