sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Numa noite de chuva

Há alguns dias estou muito introspectivo. Meus olhos nunca estiveram tão voltados para o meu umbigo quanto agora. E isso tem me impedido de observar com mais clareza os aspectos que mais chamam a atenção no cotidiano das outras pessoas. Neste início de sexta-feira 30, porém, uma cena me tirou desse momento egoísta. Acho.
Voltava do trabalho, num fim de dia que considerei positivo sob vários aspectos. Na minha cabeça, a mesma imagem que me persegue durante esse tempo e que me envolve de um sentimento que resolvi nomear de "um não sei o quê". Ainda dentro do carro, vi que chovia. E a chuva sempre me atraiu. Aliás, água me atrai, seja ela da chuva, do mar, de uma cahoeira ou simplesmente a não tão natural assim como a que cai do chuveiro. Mas trato da chuva, ela que considero importante fonte de inspiração. A introspecção que me envolvia se intensificou com as gotículas que vi no pára-brisa do carro e que senti ao descer sobre o meu rosto.
Já no meu quarto, decidi que precisava dormir o mais rápido possível, mas não antes de pedir mais uma vez a Deus em oração - e/ou conversa - para que encontre o caminho da minha felicidade. Esse pedido tem sido constante às noites...
Fui para a janela para sentir o vento frio da noite e um pouco daquela água no rosto a me abençoar. Foi da janela que vi aquela pessoa sentada no canto de parede lá embaixo a se protejer do frio, do perigo ou simplesmente da chuva que eu tanto procurava. Sentada no chão da entrada de um prédio abandonado, de roupa simples, ela abraçava as pernas dobradas e as cobria com a camisa vermelha com a qual estava vestida. Do alto do meu egoísmo literal, não tive como saber se era homem ou mulher, menino ou menina. A visão limitada pela noite, pouca iluminação artificial e distância permitiram que eu arrisque a idade daquele ser humano entre 13 e 16 anos, não mais do que isso.
Vi que um guarda parara alí para se protejer da chuva. A poucos metros de distância daquela pessoa de cabelos longos, maltratados e despenteados, ele olhava com um certo ar misto de preocupação, curiosidade, receio e pena. Com poucos minutos, saiu para outro abrigo ao lado. Vi também dois jovens que passavam pelo local. Um deles ainda parou lá e mexeu com ela até que percebeu a presença do guarda e logo saiu. Santo guarda! Somente pela presença, evitou um possível mal. Pouco depois dos dois jovens, ele também seguiu em frente para cumprir o seu papel.
Aquela imagem da janela do meu quarto não era nova. Já havia visto pelo menos outra vez que lembro. E por coincidência ou obviedade, também estava em perigo iminente ao ser incomodada por dois garotos.
Inciei minha oração/conversa com Deus olhando aquela cena e o rumo do pedido mudou porque percebi que o meu olhar voltado para o espelho me ajudava a tornar cada vez mais egoísta. Com um pouco de sinceridade, culpa, obrigação própria, peso na consciência, ou seja mais o que tenha me empurrado para tal atitude, neste início de dia não pedi pela minha felicidade só. Parei os olhos sobre ela do alto com quem quisesse abençoá-la e pedi a proteção de Deus contra todo o mal e pessoas más e as bençãos para que ela encontre a felicidade merecida por todos. Enfim, pedi para que Ele não a deixasse ser mais uma alma viva perdida no mundo.
Ao fim de tudo, fechei janela e porta do quarto e fui dormir no aconchego dos lençóis numa cama confortável, livre do frio e mais protegido do que ela do mal. Só ouvia o barulho das gotas a cair. E a cabeça pensava no que viria no dia seguinte. Mergulhei de volta nas águas do meu egoísmo, que espero ser momentâneo, de onde creio não ter saído nem nesta noite... Daquela cena, restou apenas este texto escrito antes que o meu dia chegasse ao fim.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Precisava desabafar!

03h50 da madrugada do sábado, 10 de janeiro de 2009, e eu acordado. Não lembro de ter passado na vida por experiência mais desagradável. Nos instantes iniciais do sono, sonhar perdendo alguém a quem gosto tanto. Foi assim agora há pouco. No sonho, a notícia da perda de um amigo que conheço a pouquíssimo tempo me deixou num pranto de lágrimas incontroláveis. Primeiro que não quero perder nenhum amigo. Já passei ma vez por isso na vida real e sei como dói. Depois, porque fui criado numa cultura de medo. Desde criança ouço dizer que o sonho sobre a morte de uma pessoa que não faz parte do seus laços de sangue representa a perda de um ente querido. Descontrolei-me. Também passei uma vez pela perda de um avô e sei o quanto tempo demora para a ferida cicatrizar. Queda sem tamanho.
Levantei atordoado e com o coração a pulsar nas minhas mãos. Horas antes, enquanto conversava com outro amigo, tive a impressão de ter visto um vulto passar pela sala de casa. Identifiquei uma camisa branca desfocada muito de relance. Calafrios tomaram conta do meu corpo no instante e os olhos ensaiaram um choro. Poucas vezes a minha sensibilidade esteve tão intensa. Saí do quarto à procura de um ar, água e oração. E chorei copiosamente. Foi uma sensação a qual não quero ver repetida.
Escrever foi a forma que encontrei de aliviar a alma no momento de solidão da madrugada. O sonho levou consigo parte de minha paz e sono. Orei para não perder ninguém que amo e aprendi uma lição: nesta madrugada de sábado não estava só... Deus consolou o meu pranto.
Boa noite e bons sonhos!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Desejo-te*



Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher, tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

*Victor Hugo

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Tudo e nada

A dádiva da vida
o dom de sonhar
as conquistas suadas em cada passo dado
a esperança no olhar
O amor intenso
as vitórias merecidas
o aprendizado constante
um desejo imenso
Uma casa minha
a liberdade quase que plena
o olhar sobre a vida
a alegria tão pequena
O arrepio da música
a sede de conhecimento
a felicidade simples
a lição retirada de cada momento
A sensibilidade
o bem necessário
o olhar curioso
a boa sensação da saudade
As lembranças
a visão de futuro
os erros transformados em acertos
o caminho duro
A base indispensável da família
as rédeas do destino
o livre arbítrio
o badalar do sino
As escolhas acertadas
as palavras ditas
o valor do esforço
as emoções externadas
A água pura da chuva
a luz do sol
o verde da natureza
a mudança na curva
O presente da vida
a lição da gratidão
a adimiração pela justiça
a maior chance perdida
Com tantas coisas, como posso me sentir no vazio?!
a impressão errada me cerca:
a de que tenho tudo e não tenho nada...