quarta-feira, 17 de junho de 2009

EDITORIAL


Um show de afrontas a uma categoria decisiva na retomada da democracia no Brasil. É com a indignação devida que recebo a decisão infundada do Supremo Tribunal Federal nesta histórica e já famigerada quarta-feira. Por oito votos a um, os ministros do STF decidiram anular a exigência do diploma para o exercício do Jornalismo, numa luta que se arrastava judicialmente desde 2001.
Foram mais de quatro horas de discussões travadas por quem não tem o menor conhecimento do que seja o Jornalismo. E nem o respeito, diga-se de passagem. Entre as justificativas listadas pelos nobres ministros - com toda a ironia que este espaço me permite -, a principal delas baseava-se no argumento das instituições que protocolaram o recurso no STF: a de que a exigência do diploma tiraria da população o direito básico de manifestar suas opiniões, o que feriria a Constituição de 1988. Um argumento que não se sustenta por si só. Os jornalistas não temos o poder exclusivo de controle sobre a emissão de opiniões de quem quer que seja! E nem o queremos. O relator do processo e presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, disse que o fato de um jornalista ser graduado não implicaria mais qualidade enquanto profissional. O seu pensamento, ministro, permite-me pensar que isso também seja perfeitamente aplicável ao exercício do Direito, pois é a exigência do diploma que sustenta o trabalho de milhares de juristas Brasil à fora.
Pela lógica da nossa Carta Magna, a função de legislar cabe ao Congresso Nacional e aos pares nas demais esferas do Poder Público, e não ao Judiciário. Reversão de papéis, é assim que chamo. Mas, ao contrário dos excelentíssimos ministros do STF, enquanto Jornalistas não possuímos o direito de anular tal decisão. Parece-me que o caráter humano seja tão fundamental para os jornalistas quanto para as demais profissões... Ou será que sou errado ao pensar desta forma?!
Para o exercício do Jornalismo é necessário, sim, bom caráter, domínio da comunicação, da língua portuguesa, mas também dos conhecimentos histórico, ético, filosófico, sociológico, técnico, prático. E é esse o valor cognitivo que se esconde atrás do diploma de qualquer graduado. O que o STF diria se eu quisesse ser um juiz, mesmo sem diploma? Teria eu a devida competência para julgar? Detalhe: na faculdade de Comunicação Social, estudei sobre leis.
A decisão de hoje entristece os jornalistas também pelo fato de uma instituição ligada à categoria ser corresponsável pela ação: o Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Sertesp). O outro responsável foi o Ministério Público Federal. Depois disto, creio que não seja mais justificável a imprensa falar sobre a morte do movimento estudantil. A desunião da categoria está provocando a morte dela também.
O Jornalismo do diploma obrigatório já provocou vários erros e injustiças, como ocorre em qualquer outro trabalho. Só que muitas das consequências são irreversíveis neste campo. Cito o caso emblemático da Escola Base, no qual a imprensa, em atitude apressada e irresponsável, divulgou haver a prática de abuso sexual por parte dos proprietários e alguns funcionários da escola. Tempo depois, a denúncia não se confirmou. Resultado: uma mancha na reputação dos denunciados que está longe de ser apagada. A decisão do STF de hoje abre espaço para que erros iguais ou maiores do que este se tornem cada vez mais frequentes no Brasil. E isso não é somente um mau presságio. É uma constatação óbvia!
A decisão está tomada e contra ela parece não haver possibilidade de alteração. Os detentores da verdade absoluta assinaram em baixo. Resta-nos agradecer pelo fato de haver nesse deserto de injustiça um grão de sensatez que foi o único voto favorável ao diploma, do ministro Marco Aurélio Mello. Ponto para eles!

8 comentários:

Dudu disse...

Apoiado,sou solidário com a causa uma vez que essa medida fere com os princípios da formação acadêmica, onde é inegável que o Jornalista ou qualquer profissional que tenha passado pelo árduo caminho até chegar a conclusão de um Curso Superior tem um diferencial em relação aos demais pela própria preparação.
Educação, Formação, Cidadania merecem respeito!

Anônimo disse...

anula-se a importância da especialização, dos cursos, dos professores, dos profissionais!

tudo isso existe, tudo isso é triste, tudo isso é fado!

Marlos Araújo disse...

Esse ato é mais uma das provas de que devemos deixar de acreditar nesse país!

Porque abrir mão de uma especialidade tão fundamental para a sobrevivência do mesmo é um antipatriotismo.

Entregar esse poder nas mãos de "carniceiros" é pôr abaixo um alicerce de análises e preocupações advindo de décadas e se pôr, ainda mais, à frente de interesses particulares...

Talvez na Venezuela exista pelo menos um pouco de qualidade de imprensa!

Minha indignação está registrada!

Unknown disse...

E o que faremos? Rasgar o diploma?? Isso é ridículo! A decisão acaba também com os sonhos de quem deseja se formar jornalista, como profissão digna! Acaba com as expectativas e planos dos jovens que hoje estão assistindo aulas, correndo atrás de estágio... E os já formados? Como bater na porta à procura de emprego, se um jogador, um ex-bbb, ou qualquer outro profissional também podem se transformar em repórter, apresentador, colunista?
Agora, qual será a realização de quem está recebendo um diploma?

Gil de todos os dias disse...

Hoje para muitos concursos públicos é preciso também saber da legislação, saber "Direito". Alguns candidatos passam anos estudando para conseguir uma aprovação. Ao final de tantos, acredito que já sabem das leis mais que muitos alunos de faculdades de Direito espalhadas pelo país. Façamos deles advogados também? Isso dá o "direito" de que eles defendam uma causa?! Oras! Por que não!!?!?!
É como disse em meu texto, não concordo com a decisão, mas não vou queimar meu diploma. Ele vale muito sim!!!

Léo Guilherme disse...

O ministro Gilmar Mendes presidente-relator e os demais magistrados, com exceção do ministro Marco Aurélio, do STF demonstraram não ter conhecimento suficiente para tomar decisão de tamanha importância e repercussão social.

Sem saber o que é o jornalismo, mais uma vez confundiram liberdade de expressão, de imprensa e direito de opinião com o exercício de uma atividade profissional especializada, que exige sólidos conhecimentos teóricos e técnicos, além de formação humana e ética.

Muitos diziam que os jornalistas eram soberbos e se sentiam deuses, bem, aprendemos a duras penas que não somos. Parece que esse cargo ja está ocupado pelos ministros do STF.

Deyse disse...

Eu não concordo com isso é claro que os jornalistas tem que ter o seu diploma.
Por isso que eu sempre falo não temos justiça nesse mundo,só deus mesmo pra nos ajudar e fazer as justiças desse mundo.
O diploma vale muito.

jerller alves disse...

Os jornalistas saíram enfraquecidos após essa "decisão" do STF.O Brasil agora pode ser "informado" por pessoas que não tem condições de passar informações,e muito menos formar opiniões.