terça-feira, 5 de abril de 2011

Carta de uma telespectadora


"A TV paraibana nunca foi tão ridicularizada. As mortes transmitidas das 12h às 13h, que já eram prato principal dos almoços de muitos paraibanos "vidrados" no Correio Verdade, agora estão do jeito que o jornalismo imprudente sempre sonhou: as pessoas riem da desgraça alheia e a bandidagem ainda vira melô,
hit musical...

Pois é, as novas celebridades do jornalismo local não são reconhecidas por seu trabalho sério e competente em informar. Não são vistas pelo Brasil como repórteres que elevam a Paraíba. São reconhecidas em toda a parte, mas, como o próprio Portal Correio anunciou em 2010: "Agora, toda a Paraíba vai ver e conhecer a força, a alegria e a irreverência de Samuca Duarte e Emerson Machado."
É mesmo uma pena que estivessem falando de um programa policial.
Sucesso no youtube, orkut e afins, a "dança do mofi" é unanimidade: agrada tanto aos cidadãos de bem quanto aos bandidos. As crianças, incentivadas até mesmo pelos pais, colocam a camisa na cabeça e com os braços para trás dançam e aumentam a popularidade do jornalismo que todas as tardes ri da falta de consciência de uma população, que já acostumada com a impunidade, resolveu aceitar que ela virasse piada.
Tratados como "amigos" (já que são a audiência), os criminosos até gostam das brincadeiras. Afinal de contas, nem é assim tão grave o que eles fazem...
Para mim, parecia que já tinham usado e abusado de todas as armas do sensacionalismo. Mas mostraram que não. No dia 31 de março, o telejornal foi transmitido em pleno Mercado Público de Mangabeira e, é claro, com direito a palco e plateia. A cada notícia de mais uma entrada no Hospital de Emergência e Trauma ou de uma briga em bar que acabava em morte, uma música era tocada pela banda que estava participando do Caravana da Verdade. Lágrimas, perdas e outras tristezas que merecem respeito (seja por quem for), viraram show. Um show desejado e aclamado por muitos telespectadores. Ah, a ideia contraditória e doentia da contratação da banda foi anunciada no prórpio Portal Correio, com as seguintes palavras:" A Banda Identidade Baiana realizará um show para animar ainda mais o evento, das 11h às 14h."
Samuka Duarte, Emerson Machado ( Mô- fi), Marcos Antonio (O Àguia), Josenildo Gonçalves (O Cancão da Madrugada) e toda a equipe de edição do Correio Verdade conseguem, dia após dia, tornar animadas as refeições de paraibanos que não se importam em almoçar frente às cenas de corpos perfurados e poças de sangue humano. Creio que não conseguem, com a mesma eficácia, tornar menos dolorosa a sina de uma mãe que sente a dor de ter um filho que agora é presidiário; de parentes de uma criança que morreu acidentalmente; ou de um pai que vê seu filho destruído pelas drogas, morto e servindo de audiência para um programa de humor chamado Correio Verdade.

Não sou jornalista. Sou nutricionista, mas antes disso, cidadã. Incomodada com o desprezo explícito à vida humana senti a obrigação de pedir a todos os meus contatos que repensem seus valores de respeito e dignidade à vida sempre que pensem em assistir esse e outros programas que indiquem sinais tão fortes de insulto a nós, telespectadores. Insulto a nossa capacidade e direito de exigir jornalismo de qualidade em palavras e atitudes.
(...) Quanto mais as pessoas se conscientizarem dos "pequenos" males que nos envolvem com graça e alguns risos com gosto de sangue, mais chance teremos de exercer e usufruir daquilo que chamamos de cidadania. Merecemos mais respeito.
Atenciosamente,
Elaine Oliveira
Nutricionista e Personal Diet"

4 comentários:

Anônimo disse...

A violência da TV Correio incomoda muito. A morte e outros assuntos importantes foram banalizados. Mas incomoda tb o jornalismo superficial feito pelas afiliadas globais. O que dizer de um quadro: é o bicho? E aquelas fotos de animais tratados como gente? O que dizer a alguém que vive na miséria ao ver um animal sendo tratado a pão de ló. A verdade é que a tevê paraibana precisa se reciclar. Temos a superficialidade e banalidade de um lado (com exceções de algumas reportagens) e a banalização da violência de outro. Isso sem se falar no linguajar apurado de Anacleto Reinaldo. Abs

Anônimo disse...

Sou jornalista, não posso me identificar, mas estou aqui para concordar com sua opinião. Os estudantes de jornalismo hoje, saem das faculdades (UEPB, UFPB OU FIP) com um diploma que muitos já julgam inútil. Isso desanima e nos deixa a mercê de chefões, não diplomados e donos destes meios de comunicação mediocres, que abusam de seus slogans " atendendo as classes menos favorecidas " para gerar audiencia a todo custo. Eles afirmam que esses programas são destinados a classes C, D e E. E eu te pergunto, pobreza, falta de dinheiro, são sinônimos de ausencia de sentimentos? Os pobres não respeitam a dor ou sentem dor? Eles acham engraçado a desgraça do outro? NÃO! NÃO! Não é assim. O que falta é oportunidade para os recém formados entrarem no mercado, sem medo de inovar e mostrarem algo de qualidade, independente de classe social, raça, tamanho ou gênero. Todos temos direito a informação de qualidade, com VERDADE VERDADEIRA dos fatos, e não uma "verdade" que enfeita uma publicidade institucional... Se nós, nos organizarmos, tomando como exemplo o que vem acontecendo na LÍBIA e aqui mesmo no Brasil, em relação ao boicote dos postos Petrobrás, podemos gerar uma queda de audiencia nesses programas, diminuindo os patrocinadores destas "coisas" e quem sabe os obrigando a mudar esse estilo de se fazer jornalismo, que eu, como conhecedora da profissão te digo: não é uma realidade isolada nossa... Basta buscar no youtube "videos engraçados" que vai aparecer série de matérias com repórteres não formados, amigos de donos de TV's afiliadas no nordeste, que não informaram, mas fizeram muita gente rir da desgraça alheia.

Parabéns pelo texto,
seu desabafo é um alerta.

Anônimo disse...

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