segunda-feira, 16 de março de 2015

O que aprendi com Curitiba



Mais uma lição de qualidade de vida; só que, desta vez, aqui mesmo no Brasil. Curitiba me provou que o ritmo de uma grande cidade não precisa ser frenético, com gente correndo o tempo todo e atropelando o respeito. Vi pessoas andarem devagar pelas calçadas de nivelamento padronizado, acessíveis. Gente que atravessa as ruas pelas faixas de pedestre, que aproveita a caminhada para apreciar o tempo de cada dia ou simplesmente a paisagem urbana, livre de poluição visual, como outdoors gigantescos e letreiros de lojas espalhafatosos e desordenados. Um centro de uma grande cidade limpo! Meu olhar atento não flagrou sequer uma bituca de cigarro no meio-fio.
            Boa fluidez no trânsito pode nos poupar de fortes dores de cabeça. Foi isso que encontrei por lá também, circulando pela capital paranaense durante uma semana. Ruas bem sinalizadas para condutores e pedestres, asfalto liso e sem remendos, tampas de esgoto no nível das pistas. Canteiros bem cuidados dão às vias um ar mais leve durante os trajetos. Em muitas ruas e avenidas, motoristas e motociclistas dividem espaços com ciclovias. Elas são muitas, extensas e inteligentes. Fiquei com a impressão de que Curitiba vive se adaptando às tendências que melhoram a mobilidade urbana e contribuem para a redução de emissão de gases poluentes na atmosfera. Isso também é perceptível nos ônibus híbridos de biocombustível e eletricidade que circulam em diferentes rotas.
            O transporte público por ônibus merece destaque. Veículos novos/conservados, limpos e com dispositivos de acessibilidade. A cidade já conta com o BRT (Bus Rapid Transit), que dá mais agilidade às viagens. Existem vias exclusivas para ele! Em vários pontos de parada, o passageiro tem acesso, através de painéis, a informações atualizadas do horário em que o veículo vai passar no local. Nas paradas – cobertas –, mapas com os percursos de várias linhas. Idosos entram pela entrada comum a todos os usuários e passam na catraca, só que com direito à gratuidade. Não precisam assinar nada, nem mostrar documento às câmeras. É menos humilhante e discriminatório. Nos ônibus sem cobradores, os motoristas não acumulam a função. Simplesmente só entra quem já possui o bilhete eletrônico. Algumas linhas são temáticas: uma passa pelas principais universidades e faculdades; outra, só por hospitais.
            Curitiba é verde e se orgulha disso. Tem vários parques e bosques públicos. Espaços nos quais o morador pode se desligar do mundo barulhento. Além disso, com lindas paisagens. A população adotou a araucária como símbolo e a preserva. Vi várias construções que tiveram de ser adaptadas para salvar árvores da espécie. Áreas de pedreiras foram revitalizadas e se tornaram pontos turísticos.

            Óbvio que destaquei somente o lado positivo. Mas a escolha é para justificar o motivo de ter escrito este texto. Digo que é possível ver, aqui na Paraíba, as duas maiores cidades aumentarem a qualidade de vida das suas populações. É só o poder público agir e a população abraçar a causa. Dá para ter calçadas que facilitem a mobilidade de todos, em todas as idades e condições de locomoção. Dá para ter mercados públicos limpos e organizados. Dá para reduzir e muito a poluição visual e sonora. Tem como tratar o lazer das pessoas como algo importante. Pagamos impostos suficientes para recebermos, em troca, ruas bem cuidadas e seguras para quem transita a pé, de cadeira de rodas ou de veículos motorizados. É quase unanimidade a beleza dos nossos ipês. Por que não adotá-los como marco incipiente de um trabalho de conscientização ambiental? Lixeiras fabricadas em ferro em substituição às de plástico. Lá em Curitiba, um número de telefone simples e gratuito é difundido por todo canto para que a população possa denunciar casos de vandalismo. Esse número é o da Guarda Municipal. Penso que a criação de um serviço parecido por aqui poderia ser um ótimo início para algumas mudanças sugeridas neste texto, com base no que já funciona bem naquela cidade do sul. Você cria nas pessoas o costume de defender o patrimônio público; o próximo passo é a população preservar o que é dela.

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