Mais uma lição de qualidade de vida; só que, desta vez,
aqui mesmo no Brasil. Curitiba me provou que o ritmo de uma grande cidade não
precisa ser frenético, com gente correndo o tempo todo e atropelando o
respeito. Vi pessoas andarem devagar pelas calçadas de nivelamento padronizado,
acessíveis. Gente que atravessa as ruas pelas faixas de pedestre, que aproveita
a caminhada para apreciar o tempo de cada dia ou simplesmente a paisagem
urbana, livre de poluição visual, como outdoors gigantescos e letreiros de lojas
espalhafatosos e desordenados. Um centro de uma grande cidade limpo! Meu olhar
atento não flagrou sequer uma bituca de cigarro no meio-fio.
Boa fluidez no trânsito pode nos poupar de fortes dores de cabeça. Foi isso que
encontrei por lá também, circulando pela capital paranaense durante uma semana.
Ruas bem sinalizadas para condutores e pedestres, asfalto liso e sem remendos,
tampas de esgoto no nível das pistas. Canteiros bem cuidados dão às vias um ar
mais leve durante os trajetos. Em muitas ruas e avenidas, motoristas e
motociclistas dividem espaços com ciclovias. Elas são muitas, extensas e
inteligentes. Fiquei com a impressão de que Curitiba vive se adaptando às
tendências que melhoram a mobilidade urbana e contribuem para a redução de
emissão de gases poluentes na atmosfera. Isso também é perceptível nos ônibus
híbridos de biocombustível e eletricidade que circulam em diferentes rotas.
O transporte público por ônibus merece destaque. Veículos novos/conservados,
limpos e com dispositivos de acessibilidade. A cidade já conta com o BRT (Bus
Rapid Transit), que dá mais agilidade às viagens. Existem vias exclusivas
para ele! Em vários pontos de parada, o passageiro tem acesso, através de
painéis, a informações atualizadas do horário em que o veículo vai passar no
local. Nas paradas – cobertas –, mapas com os percursos de várias linhas.
Idosos entram pela entrada comum a todos os usuários e passam na catraca, só
que com direito à gratuidade. Não precisam assinar nada, nem mostrar documento
às câmeras. É menos humilhante e discriminatório. Nos ônibus sem cobradores, os
motoristas não acumulam a função. Simplesmente só entra quem já possui o
bilhete eletrônico. Algumas linhas são temáticas: uma passa pelas principais
universidades e faculdades; outra, só por hospitais.
Curitiba é verde e se orgulha disso. Tem vários parques e bosques públicos.
Espaços nos quais o morador pode se desligar do mundo barulhento. Além disso,
com lindas paisagens. A população adotou a araucária como símbolo e a preserva.
Vi várias construções que tiveram de ser adaptadas para salvar árvores da
espécie. Áreas de pedreiras foram revitalizadas e se tornaram pontos
turísticos.
Óbvio que destaquei somente o lado positivo. Mas a escolha é para justificar o
motivo de ter escrito este texto. Digo que é possível ver, aqui na Paraíba, as
duas maiores cidades aumentarem a qualidade de vida das suas populações. É só o
poder público agir e a população abraçar a causa. Dá para ter calçadas que
facilitem a mobilidade de todos, em todas as idades e condições de locomoção.
Dá para ter mercados públicos limpos e organizados. Dá para reduzir e muito a
poluição visual e sonora. Tem como tratar o lazer das pessoas como algo
importante. Pagamos impostos suficientes para recebermos, em troca, ruas bem
cuidadas e seguras para quem transita a pé, de cadeira de rodas ou de veículos
motorizados. É quase unanimidade a beleza dos nossos ipês. Por que não
adotá-los como marco incipiente de um trabalho de conscientização ambiental?
Lixeiras fabricadas em ferro em substituição às de plástico. Lá em Curitiba, um
número de telefone simples e gratuito é difundido por todo canto para que a
população possa denunciar casos de vandalismo. Esse número é o da Guarda
Municipal. Penso que a criação de um serviço parecido por aqui poderia ser um
ótimo início para algumas mudanças sugeridas neste texto, com base no que já funciona
bem naquela cidade do sul. Você cria nas pessoas o costume de defender o
patrimônio público; o próximo passo é a população preservar o que é dela.
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