Phelipe tem 28 anos e lembra exatamente o dia em que nasceu: 10 de dezembro de 2003. Talvez essa data seja mais comemorada até do que aquela registrada nos documentos oficiais. Phelipe (re) nasceu depois de sucesivos sustos causados pelo consumo da cocaína durante uma adolescência desregrada; sem limites.
Natural de Campina Grande, abandonou a escola quando estava na quinta série de um colégio particular conceituado na cidade. Andava com pessoas que chama hoje de "más companhias". É adepto de esportes radicais: já foi skatista durante alguns anos e atualmente faz trilhas de moto. "Eu quero ir agora numa trilha de noite", confessa o próximo passo na busca da adrenalina. Ele também ama música e já foi inclusive cantor numa banda de pop rock de bairro. Ouve muito rock inglês e é autodidata no violão. Comparou aquele 10 de dezembro com o dia da morte da cantora Cássia Eller. Só para lembrar, a roqueira nacional morreu em 2001 por consequências de uma overdose de algum tipo de droga. E foi quase isso o que aconteceu com ele.
Mas, entre internações, soros, choques e a proximidade da morte, Phelipe acordou. Disse não ter precisado de ajuda específica para se livrar do vício. "Meu avô sempre fala uma coisa: 'O homem chega onde ele quiser ir e para de ir também quando quiser'". Não lembro se foram essas as palavras utilizadas por ele enquanto me contava a sua história de vida, mas a essência é essa mesma: tudo depende da vontade.
Naquele dia, caiu em si e decidiu parar com as drogas. Conseguiu. Está há quase seis anos "limpo". Hoje, mora sozinho em Campina Grande e trabalha com guinchos na empresa familiar criada pelo avô. A família dele mora em João Pessoa, onde vai visitá-la uma vez perdida no ano.
Apesar do pouco estudo nos bancos de uma escola, Phelipe é muito bem informado sobre atualidades, expressa-se muito bem e conhece como poucos a bíblia. Não é dos religiosos fanáticos não. Foi um dia testemunha de Jeová e pensa em voltar. Fiquei calado enquanto ele falava sobre Deus. Tinha propriedade para falar do assunto mais do que eu. Foi em Deus que ele encontrou a força que precisava.
Hoje, Phelipe não pensa em voltar a estudar. Quer assumir a empresa do avô para desenvolvê-la. Namora uma menina mais jovem que ele quase dez anos e pretende casar com ela no ano que vem.
Conheci Phelipe na fila para comprar passagens da rodoviária de Campina Grande. Conversamos por quase duas horas durante a viagem. Escutei mais do que falei. Afinal, ouvir a história de vida dele era mais interessante do que contar a minha...
4 comentários:
Que lindo relato!!! Me arrepiei!!
Adorei... Esse tipo de experiência só acontece nos momentos mais inesperados, como a fila da Real.
Eu já tive experiências de conhecer pessoas assim. Uma vez acompanhei um amigo, num aula de dança. Em uma hora a mulher me contou a vida dela quase toda e ainda me pediu pra ligar pra ela, pra ela terminar de contar o resto... NUNCA LIGUEI.
Lindo post e escreve um em minha homenagem kkkkkkk
Só n gostei d parte q vc falava q a sua vida n era mais interessante q a dele: digo com propriedade que a sua daria um livro!
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