sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Aula dá saudade*


Texto de Mica Guimarães**

Ao longo de 29 anos de ensino, fui honrado pelo convite de turmas concluintes de Comunicação Social da UEPB para proferir Aulas da Saudade. Na última quarta-feira (03/12), participei de mais uma, oportunidade em que tive o prazer de dizer o que, por restrições acadêmicas, é impossível ao fazê-lo no cotidiano frio de salas insalubres.
Como toda Aula da Saudade, foi uma experiência vibrante. É que a Aula da Saudade tem o poder de tornar todo aluno e todo professor convincente. Na verdade, haverá sempre algo mais do que uma simples aula rotineira de conclusão de curso.
Aula da Saudade tem que ser assim: forte nos conceitos, afirmativa nas conclusões. A Aula da Saudade é o milagre do ensino superior, pois permite que o professor diga, em poucos minutos, o que todos os professores juntos não conseguiram dizer em vários anos de universidade. Nas aulas regulares estabelecidas em currículo, a monotonia torna o aluno apático e distante da realidade. Cumpre horários, por ser forçado a isto, em face do mero rigor disciplinar. Adestrado para desempenhar tal missão, o aluno passa a ser um mero depósito de informações, muitas vezes, totalmente dissociadas de suas aspirações mais íntimas.
Aula da Saudade tem gosto de esperança, porque aponta para o futuro e os seus desafios. Para melhorar ainda mais o nível do nosso ensino, fosse eu o ministro da Educação, determinaria que, a partir de hoje, todas as aulas ordinárias do semestre passassem a ser obrigatoriamente da saudade. O professor, assim, ao prestar concurso para a docência deveria, antes, comprovar a sua competência para ministrar Aulas da Saudade. O aluno, por seu turno, deveria atrstar a sua inclinação natural para as aulas nascidas da alma, através das lições que o espírito impõe. Aluno que quer ser doutor apenas, ter um diploma exposto em parede de sala de estar e um refulgente anel de formatura à mostra entre os dedos, seria, de pronto, inexoravelmente eliminado. Se quiser somente ser conhecedor de técnicas frias, sem o calor das excogitações humanas, fora!
Educação é para homens. Aula da Saudade, para homens a serviço do Homem. Aula dá Saudade. Mormente quando os professores, conscientes da missão árdua e bela, permitem aos alunos, em rápidos minutos, a visão cristalina do futuro, como arautos incansáveis do que inevitavelmente haverá de vir.
*Texto publicado na página de opinião do Jornal da Paraíba, em 5 de dezembro de 2008.
**Mica Guimarães é jornalista e professor da Faculdade de Comunicação Social da UEPB.

2 comentários:

Nessita disse...

QUE TEXTO LINDO!!!

Manasses disse...

Compareci à aula da saudade sobre a qual o Prof. Mica se reportou.

Depois de quatro anos lendo e relendo textos, muitas vezes, por mera formalidade acadêmica, tive a oportunidade de registrar em minha memória a aula que o meu professor ministrou, livre das formalidades institucionais.

Aula diferente. Em primeiro lugar porque encontrei, minutos antes, Mica num barzinho. Ao me reconhecer, mandou um recado:

- Dica à comissão de formatura que talvez não possa ir à aula por estar com a voz um pouco prejudicada.

Me parece que Mica estava resfriado. Pequei seu telefone e, ao chegar ao museu onde assistiria a aula, dei o recado à comissão de formatura.

Mesmo assim Mica apareceu e atendeu as minhas expectativas, pois, dias antes, um amigo havia me dito que o humorista Chaolin afirmara, num programa de TV, que Mica era "o rei da aula da saudade".

Pude comprovar isso. E tive a satisfação de, na primeira "aula da saudade" que compareci em todos os meus anos de estudo, reencontrar um professor que, até mesmo na aulas cotidianas, sempre fez diferente e sempre conquistou o respeito e a adimiração dos alunos que o ouviam.