sábado, 19 de setembro de 2009

Uma vida em duas horas

Phelipe tem 28 anos e lembra exatamente o dia em que nasceu: 10 de dezembro de 2003. Talvez essa data seja mais comemorada até do que aquela registrada nos documentos oficiais. Phelipe (re) nasceu depois de sucesivos sustos causados pelo consumo da cocaína durante uma adolescência desregrada; sem limites.
Natural de Campina Grande, abandonou a escola quando estava na quinta série de um colégio particular conceituado na cidade. Andava com pessoas que chama hoje de "más companhias". É adepto de esportes radicais: já foi skatista durante alguns anos e atualmente faz trilhas de moto. "Eu quero ir agora numa trilha de noite", confessa o próximo passo na busca da adrenalina. Ele também ama música e já foi inclusive cantor numa banda de pop rock de bairro. Ouve muito rock inglês e é autodidata no violão. Comparou aquele 10 de dezembro com o dia da morte da cantora Cássia Eller. Só para lembrar, a roqueira nacional morreu em 2001 por consequências de uma overdose de algum tipo de droga. E foi quase isso o que aconteceu com ele.
Mas, entre internações, soros, choques e a proximidade da morte, Phelipe acordou. Disse não ter precisado de ajuda específica para se livrar do vício. "Meu avô sempre fala uma coisa: 'O homem chega onde ele quiser ir e para de ir também quando quiser'". Não lembro se foram essas as palavras utilizadas por ele enquanto me contava a sua história de vida, mas a essência é essa mesma: tudo depende da vontade.
Naquele dia, caiu em si e decidiu parar com as drogas. Conseguiu. Está há quase seis anos "limpo". Hoje, mora sozinho em Campina Grande e trabalha com guinchos na empresa familiar criada pelo avô. A família dele mora em João Pessoa, onde vai visitá-la uma vez perdida no ano.
Apesar do pouco estudo nos bancos de uma escola, Phelipe é muito bem informado sobre atualidades, expressa-se muito bem e conhece como poucos a bíblia. Não é dos religiosos fanáticos não. Foi um dia testemunha de Jeová e pensa em voltar. Fiquei calado enquanto ele falava sobre Deus. Tinha propriedade para falar do assunto mais do que eu. Foi em Deus que ele encontrou a força que precisava.
Hoje, Phelipe não pensa em voltar a estudar. Quer assumir a empresa do avô para desenvolvê-la. Namora uma menina mais jovem que ele quase dez anos e pretende casar com ela no ano que vem.
Conheci Phelipe na fila para comprar passagens da rodoviária de Campina Grande. Conversamos por quase duas horas durante a viagem. Escutei mais do que falei. Afinal, ouvir a história de vida dele era mais interessante do que contar a minha...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Este, sim, é pra você!




Pouco mais de um ano e já acho que conheço a tua voz, a tua escrita, os teus objetivos. Como pode?! Disse certa vez - e não sei se lembras - que te conheço há mais tempo. Só não sei de onde, nem como, nem quando. É só o que falta saber... Preciso mesmo?! Não. Faz-me bem o que já conheço de ti. Das duas, uma: ou me contento com pouco ou o que você tem a oferecer é infinitamente grande.
Amiga do telefone, fui apresentado primeiramente a tua voz e só tinha ela para traçar um perfil físico que personificasse aquele som. Discutíamos, pra variar, trabalho!
Amiga do orkut, e da voz passei a conhecer também a imagem. Alguns poucos recados trocados sem o tema trabalho rondar tanto.
Do msn, dos altos papos madrugadas a dentro, conversando sobre tudo ao som de música boa. Apreendi um pouco da sua personalidade e do bom gosto musical que possui. Influenciadora; para o bem, claro.
Numa reunião, vi em carne e osso e algumas sardinhas (de sardas, tá!) o que conhecia antes apenas virtualmente. Que bom! E num abraço forte confirmei que de fato eras minha amiga.
Fazendo as contas hoje, as vezes que nos vimos pessoalmente não chegaram a vinte. Acho. Dois pontos percentuais para mais ou para menos (rsrsrs).
No dia do seu aniversário, grato pelo presente que é a sua amizade. Pra você, 365 dias desse novo ano de muitas felicidades, no plural mesmo para que elas venham de todas as partes que puderem vir.
Beijo, me liga!
Ps.: Tem algo que pague esse sorriso?! Tem não...

domingo, 12 de julho de 2009

Dias




Têm dias que nascem para ser inesquecíveis.
O do primeiro aniversário, namoro, beijo,
o da surra do pai ou da mãe, das palavras sábias de um velho,
o do primeiro emprego, o dia em que passou no vestibular,
o daquela briga com o melhor amigo, o de um banho de chuva,
o dia de uma festa bem aproveitada, cercado de amigos.
Um dos seus, Mary, foi o de ontem.
Um dos meus foi o dia em que te conheci.

sábado, 27 de junho de 2009

Festa em luto

Imagem: internet

Ainda cheguei a ver quando criança a forma mais tradicional de luto pela morte de um ente querido. Normalmente, as senhoras viúvas usavam durante sete dias vestimentas pretas, na intenção de exteriorizar o sentimento que as dominavam por dentro: a dor da falta. Pela novela das oito, soube que o luto na Índia é representado pelo branco. Em outros países, como no Egito, a tonalidade é a que se assemelha à de uma folha seca; o fim da vida.

Através de cores, atitudes, pensamentos, palavras, o luto pode ser manifestado por diversas formas. No mundo virtual do Orkut, por exemplo, a imagem de uma fita preta ou simplesmente a palavra "luto" expressa bem esse estado de espírito. E no mundo oficial, a bandeira a meio mastro indica que alguém de história relevante morreu.
O telejornalismo tratou de criar a sua própria forma de manifestar luto há algum tempo. Já virou tradição o silêncio que substitui a música tema ao fim do jornal, enquanto os nomes da equipe sobem na tela. Esse silêncio é também uma forma de homenagem pelo que representou a pessoa. Ele não foi utilizado quando da morte do jornalista Tim Lopes, há sete anos, substituído por aplausos dos apresentadores e equipe do Jornal Nacional, à qual Tim fazia parte. E ele também não foi muito usado agora, depois da notícia da morte do Rei do Pop, Michael Jackson. A atual cobertura, por sinal, é singular. Nunca vi tanta música e dança na cobertura de uma morte!Certamente, este é o luto mais festivo já produzido pela mídia que vi. E não tinha como ser diferente... Concorda?

quarta-feira, 17 de junho de 2009

EDITORIAL

Um show de afrontas a uma categoria decisiva na retomada da democracia no Brasil. É com a indignação devida que recebo a decisão infundada do Supremo Tribunal Federal nesta histórica e já famigerada quarta-feira. Por oito votos a um, os ministros do STF decidiram anular a exigência do diploma para o exercício do Jornalismo, numa luta que se arrastava judicialmente desde 2001.
Foram mais de quatro horas de discussões travadas por quem não tem o menor conhecimento do que seja o Jornalismo. E nem o respeito, diga-se de passagem. Entre as justificativas listadas pelos nobres ministros - com toda a ironia que este espaço me permite -, a principal delas baseava-se no argumento das instituições que protocolaram o recurso no STF: a de que a exigência do diploma tiraria da população o direito básico de manifestar suas opiniões, o que feriria a Constituição de 1988. Um argumento que não se sustenta por si só. Os jornalistas não temos o poder exclusivo de controle sobre a emissão de opiniões de quem quer que seja! E nem o queremos. O relator do processo e presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, disse que o fato de um jornalista ser graduado não implicaria mais qualidade enquanto profissional. O seu pensamento, ministro, permite-me pensar que isso também seja perfeitamente aplicável ao exercício do Direito, pois é a exigência do diploma que sustenta o trabalho de milhares de juristas Brasil à fora.
Pela lógica da nossa Carta Magna, a função de legislar cabe ao Congresso Nacional e aos pares nas demais esferas do Poder Público, e não ao Judiciário. Reversão de papéis, é assim que chamo. Mas, ao contrário dos excelentíssimos ministros do STF, enquanto Jornalistas não possuímos o direito de anular tal decisão. Parece-me que o caráter humano seja tão fundamental para os jornalistas quanto para as demais profissões... Ou será que sou errado ao pensar desta forma?!
Para o exercício do Jornalismo é necessário, sim, bom caráter, domínio da comunicação, da língua portuguesa, mas também dos conhecimentos histórico, ético, filosófico, sociológico, técnico, prático. E é esse o valor cognitivo que se esconde atrás do diploma de qualquer graduado. O que o STF diria se eu quisesse ser um juiz, mesmo sem diploma? Teria eu a devida competência para julgar? Detalhe: na faculdade de Comunicação Social, estudei sobre leis.
A decisão de hoje entristece os jornalistas também pelo fato de uma instituição ligada à categoria ser corresponsável pela ação: o Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Sertesp). O outro responsável foi o Ministério Público Federal. Depois disto, creio que não seja mais justificável a imprensa falar sobre a morte do movimento estudantil. A desunião da categoria está provocando a morte dela também.
O Jornalismo do diploma obrigatório já provocou vários erros e injustiças, como ocorre em qualquer outro trabalho. Só que muitas das consequências são irreversíveis neste campo. Cito o caso emblemático da Escola Base, no qual a imprensa, em atitude apressada e irresponsável, divulgou haver a prática de abuso sexual por parte dos proprietários e alguns funcionários da escola. Tempo depois, a denúncia não se confirmou. Resultado: uma mancha na reputação dos denunciados que está longe de ser apagada. A decisão do STF de hoje abre espaço para que erros iguais ou maiores do que este se tornem cada vez mais frequentes no Brasil. E isso não é somente um mau presságio. É uma constatação óbvia!
A decisão está tomada e contra ela parece não haver possibilidade de alteração. Os detentores da verdade absoluta assinaram em baixo. Resta-nos agradecer pelo fato de haver nesse deserto de injustiça um grão de sensatez que foi o único voto favorável ao diploma, do ministro Marco Aurélio Mello. Ponto para eles!

terça-feira, 16 de junho de 2009

O cupido estava bêbado!

Imagem: internet


Existem dias em que o melhor a se fazer é não sair de casa. DE-FI-NI-TI-VA-MEN-TE! Não cito nomes nem quaisquer informações que possam identificar os personagens da estória a seguir, que se não fosse realíssima daria um bom enredo de novela das sete. Bem, como a vida imita a arte e vice-versa, ainda poderemos ver coisa parecida no ar...

Último dia dos namorados. Um casal de noivos ganha um jantar romântico depois de ser sorteado numa promoção. O prêmio, convenhamos, vinha a calhar para fugir da rotina de algum tempo do casal... Agora, imaginem o cenário que passo a descrever: no restaurante, eles escolhem uma mesa e sentam-se. Com um vale da promoção em mãos, ele prefere chamar o gerente para esclarecer de que se tratava do vencedor da promoção. Queria também saber se poderiam escolher qualquer prato do cardápio que estava à disposição ou se teriam um especial. O gerente diz que irá trazer um cardápio específico. Sobre a mesa, uma garrafa de champagne. Eles escolhem o prato e conversam. Percebem que não estão recebendo o mesmo tratamento que os demais clientes do restaurante, que eram poucos no dia. Duas horas depois e o pedido chega: salmão quase cru! E o restaurante não era de comida japonesa... Resultado: saem do local com raiva e fome!

Na segunda-feira seguinte chega ele para falar com uma das responsáveis pela promoção. Parecia triste, com ar de choro... Veio para relatar o ocorrido no restaurante, sobre o mau atendimento, e deixa escapar que terminou o noivado. Mas esclarece que o motivo não foi o desastrado jantar. O prêmio pode ter sido a gota d'água apenas...

Só depois é que se pensa, será que não seria melhor seguir com a rotina e trocar presentes? Um cineminha no máximo, sei lá! Ou até nem terem se visto no dia e se falarem por telefone, e-mail... Enviaria flores e um presente para a casa dela e pronto.

Depois de ouvir o relato, inevitável, do cara ao meu lado, um detalhe faltou esclarecimento: saíram sem comer, mas e a garrafa de champanhe que estava sobre a mesa? Não arriscaram nem abrir para beber enquanto esperavam as duas longas horas?! Começo a suspeitar que alguém saiu embriagado naquele dia e não trabalhou direito...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

quinta-feira, 14 de maio de 2009

"Palavras ao vento"

As pessoas subestimam o peso das palavras. Outro dia mesmo ouvi de uma mulher dentro do ônibus a seguinte frase: "...fazer o quê, se mãe e pai a gente não escolhe?!" Ela estava revoltada com algumas atitudes da mãe dela, que parecia ser divorciada do pai. O Contexto todo que a levou a pronunciar tal frase era impossível de se apreender em tão pouco tempo e naquelas circunstâncias. Normalmente ouço música enquanto volto para casa. Naquele dia foi diferente. Não conectei os fones por preguiça, ou melhor, cansaço mental (considero este pior do que o físico...). E normalmente não presto atenção no que os outros conversam. As avalanches dos meus pensamentos não me deixam desviar o foco! Estava com a cabeça recostada no vidro da janela. A força daquela frase foi tanta que despertou minha audição. Será que aquela filha tinha a real noção do significado da frase que pronunciara? Ou aquilo foi apenas mais um "algo impensado"? Consientemente ou não, muitas vezes nós, seres humanos, jogamos as palavras sem medir o peso que elas possuem. Tem coisas que são mais fáceis de se esquecer: a dor de um tapa no rosto, por exemplo. Palavras não. E quando são negativas, mais ainda!
Experimente contar as vezes que você pronuncia um "não" durante um dia inteiro. Nunca fiz isto e nem preciso. Sei que são muitas, mesmo sem contá-las. Dizemos "não" a pensamentos, planos, chances, a outras pessoas.... e a nós mesmos. Não temos noção do quanto isso nos faz mal. E, se temos, desprezamos. Cada "não" pronunciado pode ser um passo para trás na vida. Isso não é regra, pois às vezes até um "não" se torna necessário e pode representar inclusive um passo adiante. Mas esse não "positivo" fica muito escondido e não são todas as pessoas que conseguem encontrá-lo. Dos poucos que conseguem, poucos sabem a forma correta de usá-lo ao seu favor.
"Amor" e todas as formas que envovem o verbo amar são outros exemplos de forças desprezadas. Considero a maioria dos "eu te amo" falsa. E não é por negativismo não! Esta é uma das expressões mais fortes que conheço e que não deveriam ser gastas com tanta frequencia. Só a pronuncie se de fato sentir! Saberá quando isso acontecer.
É inevitável não jogar palavras ao vento. Eu sei muito bem disso. Mas uma atitude simples e inteligente pode nos livrar de uma vida inteira de retratações: o silêncio. Quando tiver dúvidas acerca do que quer falar, simplesmente cale-se!
É isso, adeus!

terça-feira, 21 de abril de 2009

A profetisa

Ela me disse que já virou costume: todas às manhãs, sai do departamento onde trabalha e se dirige à sala em frente com um pequeno baú nas mãos. Em seguida, passa diante das cinco mesas e pede para que cada pessoa retire do objeto um pequeno pedaço de papel entre tantos e de várias cores. No interior do baú há muitos provérbios bíblicos. E todo esse processo possui um ritual: antes de se retirar um deles, deve-se fazer mentalmente uma pergunta. Espera-se que o provérbio vá ajudar de alguma forma você a encontrar a resposta ou entender a causa de determinada coisa acontecer na sua vida. Normalmente são problemas... Mal do ser humano. Bem, ela me pediu para retirar um também e o fiz. Só que antes que ela explicasse esse ritual. Resultado: não lembro do que havia escrito, se aquilo me dizia algo, sequer do nome daquela mulher que teve tão boa ideia, etc. E olhem que era uma frase curta! Da frase, conselho, pensamento, remédio ou como queira chamar, só lembro de uma palavra: CRUZ. Será que quer me dizer algo? Independente disso, vou cumprir o ritual completo da próxima vez. Tenho muitas perguntas e as respostas estão cada vez mais escassas...

segunda-feira, 9 de março de 2009

Tempo



Ele anda apressado para chegar na hora ao emprego. Ela sai correndo do trabalho para aproveitar o intervalo de almoço e passar em casa para ver se tudo está em ordem. A criança pede para o tempo passar logo e ficar adulta em busca da tão falada liberdade. Já os velhos rezam para que ele demore um pouco mais para aproveitar a vida que dizem estar no final. Para alguns, o tempo corre nos momentos de felicidade e anda a passos de tartaruga naqueles mais difíceis. Já ouvi os ditos a seguir: “Tudo o que é bom dura pouco” e “Tudo o que é bom dura o tempo necessário para se tornar inesquecível”. Qual deles tem razão, se existe razão nisso? Temos a impressão de que até os dias têm tempos distintos às vezes. Qual a sua relação com o tempo?

Digo que o tempo não é somente o melhor remédio para a cura dos males. Também pode ser o pior dos venenos para uma vida. Pois o use com moderação. Desse uso, dependem os resultados bons ou nem tão bons assim... Ele traz a certeza de que tudo passa, mas nesse tudo está também o que é bom. Ele dá novas oportunidades e pode ainda retirá-las se não forem bem aproveitadas. O tempo dá várias possibilidades, mas obriga você a fazer escolhas. Afinal, não se pode ter tudo. A maioria, sim. Ele deixa pelo caminho, dores, tristezas e cicatriza as feridas, mas coloca a sua frente novas dores, tristezas e feridas, que podem ou não ficar abertas. E novos desafios que podem te destruir. Se bem aproveitado, até o ócio serve para fazer refletir. E se não souber utilizar ao seu favor esse tempo desocupado, você pode ficar parado no tempo. Ele faz amadurecer ideias, palavras, pensamentos, atitudes, pessoas. Mas também pode fazer toda uma mentalidade retroceder a ponto de gerar monstros.

O tempo é abstrato e concreto ao mesmo tempo. A sua concretude está no rosto, na passada do dia para a noite, no calendário, nos ponteiros de um relógio, na programação da tevê, no dia do seu aniversário. E a abstração está justamente nas lembranças, no passado. Talvez até no seguinte enigma: “E o tempo, quanto tempo tem?”. O tempo remedia todos os males, mas gera um dos piores venenos: o do arrependimento. E o tempo não volta...
*Agora é a sua vez. Participe do blog comentando sobre o que significa o tempo para você?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Coisas de carnaval



Na calmaria das ruas durante o feriado de carnaval, parecia eu ser o único a ter pressa. A impressão que tive era a de que a cidade, pessoas, carros, tudo estava em slow motion enquanto eu quase corria. Comparei Campina Grande, cidade de porte médio no interior da Paraíba com pouco mais de 370 mil habitantes, a uma típica cidadezinha do interior. E o cenário não me deixava pensar diferente: ruas vazias do barulho de veículos, poucas pessoas, um casal de idosos sentados na porta de uma loja a conversar... Acredita que até o cantar dos pássaros deu para ouvir?! E tudo isso no centro da cidade! O vento, a claridade, o ar que se passava muito bem por puro...
Coisas de carnaval.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Verbo

"Qual será o verbo da vez?", questionava ela na frase do msn.
Mas já sabia qual era. Ou melhor, quais eram.
E que nada havia mudado que justificasse tal pergunta.
Tentar, sofrer, desistir, lutar, amar, eram alguns deles.
E a oposição reflete quão confusa está a sua cabeça.
Ela errou jurando ter sido incentivada por um erro dele.
Erraram os dois!
E quem perdeu no fim das contas foi o sentimento que tinham.
Agora ela tenta voltar e não consegue.
É o preço que se paga por um erro.
Perde-se, chora, sofre, dói.
Mas nem tudo acabou. Sempre há outra chance.
Nem que eles mesmos a construam.
E só depende dos dois.
Ainda há um fio que os prende um ao outro.
Embora esteja fragilíssimo.
O verbo de agora é continuar...
... A tentar, a sofrer, a desistir, a lutar, a amar.
E o tempo se encarrega de definir o tempo desses verbos.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O presente da gratidão


Somente por ter ouvido aquele "obrigado" ganhei o dia. Mas não sabia que horas depois, aquela simples palavra ganharia uma sobrecarga de sentido e sentimento ainda maior. Fico admirado com a coesão dos acontecimentos de um dia! Depois de ter saído daquela lanchonete, num parque perto de casa, em pleno domingo à noite, volto para casa com a sonoridade do "obrigado" se repetindo nos meus ouvidos como um agradável eco.

Havíamos combinado assistir a um filme que se vendeu bem apenas pela capa. "É sobre exemplo de vida, alguma coisa assim...", disse alguém. O filme tinha como título "Presente" e contava a história de um jovem rico que não conhecia muitos dos principais valores da vida. E só os conheceu através de um desafio proposto pelo avô bilionário, já falecido, de ele mesmo correr atrás da sua parte na herança. Passo a passo, ele percebeu que o "presente" que tanto procurava não possuía valor material. Ele se transformou. E, no final das contas, a grande fortuna que recebeu possuía outro sentido para ele.

Na série de presentes que ele conheceu e conquistou, estava a gratidão. Foi inevitável não associar aquele trecho do filme ao sincero "obrigado" que recebi naquela noite de domingo. Creio que compartilhei parte daquele presente com o personagem do filme. E aprendi muito!

A cena real foi a seguinte: duas amigas e eu resolvemos ir a uma lanchonete para comer alguma coisa. Enquanto uma pediu um hambúrguer, pedimos para dividir uma macaxeira recheada com frango, que não conseguimos comer sequer a metade. Entre a conversa, vejo que um garoto se aproxima da nossa mesa. Paro de conversar e olho para ele. Não devia ter mais de dez anos. Veio perguntar se poderíamos dividir um pouco do que comíamos com ele. Já enjoados da comida, resolvemos entregá-lo o que não conseguimos comer. E não era o resto. Estava à parte, num recipiente. Vi que ele fora para debaixo de uma árvore do parque e, como no milagre a multiplicação (da solidariedade; partilha), dividira aquela comida com outras duas crianças. Posso estar enganado com o número delas, pois o meu foco estava com aquele garoto.

Foi já na saída da lanchonete, que ouço aquele "Ei! Ei!". Olho para a direção de onde vinha o som e vejo que sai da boca do moleque: "Obrigado, viu..". "De nada" é o que respondo. Nem o "obrigado" do menino, nem o meu "de nada" possuiam o sentido comum para mim. Soaram como um presente.

Meu sincero "muito obrigado" por compartilharem desse aprendizado comigo, através da leitura!

Amigos

Em torno da mesa, seis amigos conversavam sobre tudo. Até que faltaram os assuntos e as opções postas, duas, sugeriam assistir a filmes - presos num quarto - ou sair até um parque não longe de casa à noite para respirar um pouco, beber um pouco e retomar a conversa mais um pouco de tempo. Resolveram sair, depois de muito tempo indecisos sobre qual programa fariam naquele início de fim de noite do sábado. E o tempo a passar...
Uma volta ao redor do parque e a conversa logo resurge. Cheiro de rua, vento no rosto, passos lentos, algumas paradas. Num barzinho ao ar livre, juntam duas mesas e sentam-se. Todo mundo come e bebe algo. E conversam... e observam o movimento... e ouvem o misto de músicas comum no local em pleno fim de semana. Há quem consiga filtrar apenas a que mais lhe agrada. "Eu estou ouvindo a do 'Banana Beer'", disse uma. O bar citado fica do outro lado da rua e perto dele uma pizzaria também apresentava múscia ao vivo aos clientes. Pegaram carona, sem pagar couver artístico.
Nas mesas ao lado, uma dupla de amigos num lanche fast e um casal que se paquerava enquanto comia e bebia. No chão, dois gatos dormiam, passeavam e também comiam e bebiam. Afinal, leite e ração estavam dispostos e bem ao alcance deles... Era de intrigar a convivência dos felinos com aquele movimento e barulho todo. Coisa de animais da cidade grande (falo tambem do barulho!). Cerca de duas horas foram o bastante para distrair um pouco. Voltamos para casa.
Relato de parte de uma noite de sábado.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Numa noite de chuva

Há alguns dias estou muito introspectivo. Meus olhos nunca estiveram tão voltados para o meu umbigo quanto agora. E isso tem me impedido de observar com mais clareza os aspectos que mais chamam a atenção no cotidiano das outras pessoas. Neste início de sexta-feira 30, porém, uma cena me tirou desse momento egoísta. Acho.
Voltava do trabalho, num fim de dia que considerei positivo sob vários aspectos. Na minha cabeça, a mesma imagem que me persegue durante esse tempo e que me envolve de um sentimento que resolvi nomear de "um não sei o quê". Ainda dentro do carro, vi que chovia. E a chuva sempre me atraiu. Aliás, água me atrai, seja ela da chuva, do mar, de uma cahoeira ou simplesmente a não tão natural assim como a que cai do chuveiro. Mas trato da chuva, ela que considero importante fonte de inspiração. A introspecção que me envolvia se intensificou com as gotículas que vi no pára-brisa do carro e que senti ao descer sobre o meu rosto.
Já no meu quarto, decidi que precisava dormir o mais rápido possível, mas não antes de pedir mais uma vez a Deus em oração - e/ou conversa - para que encontre o caminho da minha felicidade. Esse pedido tem sido constante às noites...
Fui para a janela para sentir o vento frio da noite e um pouco daquela água no rosto a me abençoar. Foi da janela que vi aquela pessoa sentada no canto de parede lá embaixo a se protejer do frio, do perigo ou simplesmente da chuva que eu tanto procurava. Sentada no chão da entrada de um prédio abandonado, de roupa simples, ela abraçava as pernas dobradas e as cobria com a camisa vermelha com a qual estava vestida. Do alto do meu egoísmo literal, não tive como saber se era homem ou mulher, menino ou menina. A visão limitada pela noite, pouca iluminação artificial e distância permitiram que eu arrisque a idade daquele ser humano entre 13 e 16 anos, não mais do que isso.
Vi que um guarda parara alí para se protejer da chuva. A poucos metros de distância daquela pessoa de cabelos longos, maltratados e despenteados, ele olhava com um certo ar misto de preocupação, curiosidade, receio e pena. Com poucos minutos, saiu para outro abrigo ao lado. Vi também dois jovens que passavam pelo local. Um deles ainda parou lá e mexeu com ela até que percebeu a presença do guarda e logo saiu. Santo guarda! Somente pela presença, evitou um possível mal. Pouco depois dos dois jovens, ele também seguiu em frente para cumprir o seu papel.
Aquela imagem da janela do meu quarto não era nova. Já havia visto pelo menos outra vez que lembro. E por coincidência ou obviedade, também estava em perigo iminente ao ser incomodada por dois garotos.
Inciei minha oração/conversa com Deus olhando aquela cena e o rumo do pedido mudou porque percebi que o meu olhar voltado para o espelho me ajudava a tornar cada vez mais egoísta. Com um pouco de sinceridade, culpa, obrigação própria, peso na consciência, ou seja mais o que tenha me empurrado para tal atitude, neste início de dia não pedi pela minha felicidade só. Parei os olhos sobre ela do alto com quem quisesse abençoá-la e pedi a proteção de Deus contra todo o mal e pessoas más e as bençãos para que ela encontre a felicidade merecida por todos. Enfim, pedi para que Ele não a deixasse ser mais uma alma viva perdida no mundo.
Ao fim de tudo, fechei janela e porta do quarto e fui dormir no aconchego dos lençóis numa cama confortável, livre do frio e mais protegido do que ela do mal. Só ouvia o barulho das gotas a cair. E a cabeça pensava no que viria no dia seguinte. Mergulhei de volta nas águas do meu egoísmo, que espero ser momentâneo, de onde creio não ter saído nem nesta noite... Daquela cena, restou apenas este texto escrito antes que o meu dia chegasse ao fim.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Precisava desabafar!

03h50 da madrugada do sábado, 10 de janeiro de 2009, e eu acordado. Não lembro de ter passado na vida por experiência mais desagradável. Nos instantes iniciais do sono, sonhar perdendo alguém a quem gosto tanto. Foi assim agora há pouco. No sonho, a notícia da perda de um amigo que conheço a pouquíssimo tempo me deixou num pranto de lágrimas incontroláveis. Primeiro que não quero perder nenhum amigo. Já passei ma vez por isso na vida real e sei como dói. Depois, porque fui criado numa cultura de medo. Desde criança ouço dizer que o sonho sobre a morte de uma pessoa que não faz parte do seus laços de sangue representa a perda de um ente querido. Descontrolei-me. Também passei uma vez pela perda de um avô e sei o quanto tempo demora para a ferida cicatrizar. Queda sem tamanho.
Levantei atordoado e com o coração a pulsar nas minhas mãos. Horas antes, enquanto conversava com outro amigo, tive a impressão de ter visto um vulto passar pela sala de casa. Identifiquei uma camisa branca desfocada muito de relance. Calafrios tomaram conta do meu corpo no instante e os olhos ensaiaram um choro. Poucas vezes a minha sensibilidade esteve tão intensa. Saí do quarto à procura de um ar, água e oração. E chorei copiosamente. Foi uma sensação a qual não quero ver repetida.
Escrever foi a forma que encontrei de aliviar a alma no momento de solidão da madrugada. O sonho levou consigo parte de minha paz e sono. Orei para não perder ninguém que amo e aprendi uma lição: nesta madrugada de sábado não estava só... Deus consolou o meu pranto.
Boa noite e bons sonhos!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Desejo-te*



Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher, tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

*Victor Hugo

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Tudo e nada

A dádiva da vida
o dom de sonhar
as conquistas suadas em cada passo dado
a esperança no olhar
O amor intenso
as vitórias merecidas
o aprendizado constante
um desejo imenso
Uma casa minha
a liberdade quase que plena
o olhar sobre a vida
a alegria tão pequena
O arrepio da música
a sede de conhecimento
a felicidade simples
a lição retirada de cada momento
A sensibilidade
o bem necessário
o olhar curioso
a boa sensação da saudade
As lembranças
a visão de futuro
os erros transformados em acertos
o caminho duro
A base indispensável da família
as rédeas do destino
o livre arbítrio
o badalar do sino
As escolhas acertadas
as palavras ditas
o valor do esforço
as emoções externadas
A água pura da chuva
a luz do sol
o verde da natureza
a mudança na curva
O presente da vida
a lição da gratidão
a adimiração pela justiça
a maior chance perdida
Com tantas coisas, como posso me sentir no vazio?!
a impressão errada me cerca:
a de que tenho tudo e não tenho nada...